Rodoviários descumprem acordo e Porto Alegre segue sem transporte coletivo

Acerto de que 50% da frota circularia nesta sexta-feira não foi seguido e greve chega ao quinto dia consecutivo

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Por Elder Ogliari
Atualização:

Atualizada às 22h06

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PORTO ALEGRE - Os motoristas e cobradores de ônibus descumpriram acordo firmado pelos líderes da categoria com as empresas do setor, sob mediação da Justiça do Trabalho, e deixaram Porto Alegre sem transporte coletivo pelo quinto dia consecutivo, nesta sexta-feira. A população foi às paradas, mas teve de recorrer aos microônibus do transporte seletivo, autorizado a carregar passageiros em pé, excepcionalmente, ou pedir carona ou dividir o custo de corridas de táxi para se deslocar, como vinha fazendo desde segunda-feira, quando a greve começou. O Sindicato dos Lojistas do Comércio calcula queda de 50% nas vendas desta semana.

A trégua havia sido estabelecida na tarde de quinta-feira. A categoria ficava com a garantia de aumento de R$ 1 no vale-refeição, que passaria de R$ 16 para R$ 17, e de manutenção do plano de saúde sem cobrança de R$ 40 dos empregados. Em troca, colocaria 50% da frota nas ruas nesta sexta-feira e 100% a partir deste sábado. Ao mesmo tempo, as partes seguiriam negociando o reajuste, entre os 5,56% oferecidos pelas empresas e os 14% pedidos pelos trabalhadores.

O prazo para um acordo definitivo ou retomada da greve era o dia 12 de fevereiro, quando o Tribunal de Contas vota um relatório que reavaliou a planilha de custos do transporte coletivo. A análise do órgão pode levar a prefeitura a autorizar um reajuste nas tarifas, como querem os empresários para admitir algum índice superior ao já proposto aos rodoviários, que se limita a repor a inflação. Alegando que o acordo não havia sido submetido a uma assembleia da categoria, os rodoviários ficaram diante das garagens e não movimentaram os ônibus.

A crise gerou desentendimentos entre a prefeitura, comandada por José Fortunati (PDT), e o governo do Estado, chefiado por Tarso Genro (PT). O prefeito pediu à Brigada Militar (a polícia militar gaúcha) que garantisse a saída dos ônibus das garagens e a segurança durante o trajeto. "Podemos mobilizar profissionais para conduzirem os ônibus, mas constatamos que é impossível colocar os veículos nas ruas por falta de segurança e, por isso, precisamos do suporte da Brigada Militar", avaliou Fortunati.

O governo do Estado negou o pedido do prefeito. Em nota, avisou que, a não ser por decisão da Justiça, a Brigada Militar não interferiria nos piquetes diante das garagens. Sustentou que determinar tal ação, no âmbito do Executivo, "seria extravasar a competência constitucional da corporação e transformar um conflito coletivo de trabalho em uma questão política de Estado, como ocorria nas épocas do regime de Exceção".

Como Fortunati havia cogitado de pedir ajuda à Força Nacional de Segurança, o texto lembra que isso só pode ser feito pelo governo do Estado e não por prefeituras. "Dissídio coletivo se resolve por negociação ou julgamento no Tribunal Regional do Trabalho, não pela coação física de trabalhadores ou de empresários", ressalta. No início da noite, uma assembleia convocada pelo Sindicato dos Rodoviários decidiu manter a greve. Ao mesmo tempo, manifestantes ligados ao Bloco de Lutas fizeram uma passeata de apoio à paralisação pelas ruas centrais da cidade. Também pediram transporte gratuito e protestaram contra a Copa do Mundo no Brasil.

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