Caminhar pelas cidades não costuma ser uma tarefa fácil para os deficientes visuais, principalmente, quando a intenção é encontrar algum endereço. Resta como única alternativa na maioria das vezes apelar pela ajuda das pessoas, capazes de ler as placas convencionais com os nomes das ruas.
Em Santa Rita do Sapucaí (MG), porém, a tecnologia está sendo usada para reverter esta situação. Na cidade, localizada no sul de Minas Gerais e conhecida como o "Vale do silício brasileiro", um projeto iniciou neste mês a instalação de placas em 3D, acessíveis a quem não tem visão.
Confeccionadas em um material que parece plástico e escritas em braile, elas já estão ajudando os moradores. "Antes eu passava apenas por locais que já estava acostumada, que sabia de cabeça", conta a secretária Ana Queli, de 31 anos, que é deficiente visual.
Agora, ela já pode ir além, se guiando pelas 20 placas em braile que já foram instaladas. "Isso ajuda muito a gente", diz sobre a novidade.
A proposta é implantar os dispositivos, que custam R$ 14,90 cada, em todas as ruas da cidade. E ainda fazer um documentário em torno da ideia.
O projeto "Ruas Cegas", como foi chamado, visa o uso de tecnologias inovadoras para levar aos deficientes visuais mais autonomia e melhora na qualidade de vida. "Estamos propondo uma reflexão sobre como a criatividade e a tecnologia podem impactar e facilitar a vida das pessoas", conta Lucas Fagundes, um dos idealizadores.
Pioneiro. A ação tem o patrocínio da prefeitura através do movimento "Cidade Criativa Cidade Feliz", que quer fazer de Santa Rita do Sapucaí o primeiro município do mundo preparado e sinalizado para os cegos. De acordo com Fagundes, foram identificadas na cidade dez pessoas nessa situação e que ganharão maior mobilidade e independência.
Santa Rita do Sapucaí foi escolhida como "cidade-piloto", mas ele já sonha longe. "Após testada e aprovada sua funcionalidade, pensamos em exportar a ideia para outras localidades do país e do mundo", diz.
O trabalho foi desenvolvido pelas startups (empresas em início de carreira) Miligrama, da qual faz parte, e Fábrica 3D. O projeto teve o apoio do Hack Town, festival de inovação e criatividade realizado no município que soma cerca de 150 micros e pequenas empresas de TI e um faturamento anual na ordem de R$ 1,5 bilhão.