Samarco joga lama removida ao lado de rio

Empresa deposita material retirado em Barra Longa às margens do Rio do Carmo, o mesmo que levou rejeitos até o Rio Doce

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Por Bruno Ribeiro
Atualização:
A 'montanha' fica na entrada da cidade de Barra Longa, vizinha a Mariana Foto: Bruno Ribeiro/ESTADÃO

A mineradora Samarco está depositando a lama que vem sendo retirada há três semanas do centro da cidade de Barra Longa, a 60 quilômetros de Mariana (MG), justamente na margem do Rio do Carmo, curso d’água que termina no Rio Doce e local de onde está vindo a sujeira que contamina a água potável de mineiros e capixabas e já chegou ao mar. 

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O procedimento, dizem especialistas, contamina cada vez mais a água do rio, pois a lama, com a chuva, volta a escorrer para as águas. A Samarco diz que o depósito no local é temporário e a empresa busca um espaço adequado.

A montanha de lama fica bem na entrada da cidade. Caminhões que saem de Barra Longa percorrem cerca de um quilômetro até o local do depósito, um terreno que funcionava como centro de exposições para festas agropecuárias da pequena cidade, de 7 mil habitantes. Uma escavadeira e uma pá mecânica passam o dia empilhando a sujeira depositada pelos caminhões. “É um lugar provisório, mas ainda não encontramos outro”, diz o prefeito de Barra Longa, Fernando José Carneiro Magalhães (PMDB), ao reconhecer que a lama pode voltar ao rio. “Falaram que iriam deixar lá para secar, e depois colocariam em outro lugar”, continua. 

Prazo. Magalhães afirma que, em reuniões com a Samarco, foi estabelecido prazo até 30 de setembro do ano que vem para que a limpeza na cidade termine. O presidente da Associação Brasileira de Análise de Impacto, Alberto Fonseca, pró-reitor da Universidade Federal de Ouro Preto, afirma que o que o risco é de um “assoreamento homeopático”, com a lama voltando ao rio aos poucos, levando as partículas sólidas de volta ao curso d’água. “Antes de fazer qualquer análise, é preciso saber o que é esta lama. Fazer um plano de amostragem, com análises em diversos pontos, para aí, sim, saber do que se trata o material”, explica o engenheiro ambiental.

“Se for constatado que o material é inerte, ou seja, não traz risco de contaminação, ele pode ser tratado como entulho. Para que fosse depositado na margem de um rio, só com um plano de drenagem e de monitoramento, o que não parece ser o caso, pelo que está sendo contado”, afirmou.

A limpeza da cidade se restringe à área urbana. Para as áreas rurais, e também para o distritos da cidade que foram atingidos, o vereador Leleco Rosário (PMDB), que encabeça o diálogo da cidade com a mineradora Samarco, diz que, até o momento, não foi feito um plano de limpeza. “Estão estudando jogar um produto para misturar com a lama e ver se a vegetação vai crescer”, afirma. 

Perda de gado. A lama seca nas margens do Rio do Carmo, antes e depois do centro de Barra Longa, tem pelo menos 1 metro de altura. “Tem gente perdendo o gado por sede. Em Gesteira, a lama ainda está no centro”, diz o pintor Luís Aparecido Rocha, de 39 anos.

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Questionada sobre o assunto, a Samarco encaminhou nota destacando a provisoriedade da situação. “O rejeito retirado da área está sendo levado temporariamente para o Parque de Exposições da cidade, em local seguro. A Samarco vai fazer o devido tratamento do material. A empresa também está buscando áreas autorizadas para depositar o rejeito restante”, diz o texto. A empresa também foi questionada sobre o que fará com a lama nas margens dos rios, mas não respondeu.

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