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São Paulo, finalmente, vira patrono da cidade de São Paulo

Poucos sabiam, mas desde 1782 Santa Ana era a padroeira oficial da capital paulista

Por Rodrigo Brancatelli
Atualização:

São Paulo, a cidade, ganhou esse nome justamente porque sua fundação ocorreu na mesma data em que se comemora a conversão do apóstolo Paulo de Tarso. São Paulo, o apóstolo dos gentios, é considerado uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo. Mas lições de história e de religião à parte, o que poucos sabem é que o papel de patrono da cidade nunca coube ao santo, mas sim à pouco lembrada Santa Ana, a padroeira da terceira idade e protetora dos marceneiros. Tamanha injustiça foi consertada agora no começo de junho, depois de um pedido pessoal do cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, ao papa Bento XVI. Às vésperas do Ano Paulino, que terá início no sábado para comemorar os 2 mil anos de Paulo de Tarso, a Cúria finalmente nomeou São Paulo como padroeiro oficial da arquidiocese paulistana e patrono da capital. "Sejamos sinceros, poucos sabiam que Santa Ana era a nossa padroeira, até mesmo pessoas da Igreja não tinham esse conhecimento", diz o padre Juarez Pedro de Castro, responsável pela comunicação da arquidiocese. "É como começar do zero, ninguém vai ficar bravo com essa mudança." São Paulo de Tarso, também conhecido como Saulo pelos hebreus, foi figura primordial para a difusão do cristianismo entre os gentios (não-israelitas). É considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja - suas epístolas formam uma parte fundamental do Novo Testamento. Mas, apesar de toda a sua importância para a religião católica, o papa Pio VI não lembrou do seu nome ao escolher o patrono da cidade de São Paulo. Em documento de 31 de maio de 1782, que está guardado no Museu de Arte Sacra do Convento da Luz, o papa italiano nomeou Santa Ana para o cargo. "Os portugueses sempre colocavam a figura de Santa Ana nas cidades que fundavam, como fizeram por aqui e em outros tantos lugares. Assim, o Vaticano acabou oficializando a santa como padroeira da cidade de São Paulo", conta o padre Juarez. "No ano passado, quando d. Odilo assumiu, ele queria celebrar o centenário da arquidiocese de uma maneira muito especial. E pediu para Roma nomear São Paulo, ao lado de Santa Ana, como patronos da nossa cidade. Roma não deixou dois patronos e São Paulo foi nomeado sozinho como novo patrono. Praticamente não muda nada, é algo simbólico. Queremos que São Paulo sirva agora de modelo e seja imitado pelos paulistanos." AVÓ DE JESUS Com a decisão de tirar o cargo de patrono de Santa Ana, quem não gostou lá muito dessa história foram os devotos da padroeira da terceira idade. "Que isso não seja encarado como um rebaixamento, a Santa Ana foi escolhida por Deus para ser mãe da virgem imaculada", diz Zilda de Almeida, de 55 anos, freqüentadora da Paróquia de Sant?ana, na zona norte da capital. A história de Santa Ana, mãe da Virgem Maria e avó de Jesus, toma por base apenas relatos contidos em registros apócrifos e na tradição que vem dos primórdios da era cristã. Conta-se que Ana concebeu Maria ao orar ao Senhor, pois vivia um longo período estéril. "Religião não é uma competição, uma figura católica não pode ser mais importante do que a outra."

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