RIO - A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro só será eficaz se problemas estruturais forem atacados, acreditam especialistas ouvidos pelo Estado. Dentre os mais importantes para a redução da violência a médio e longo prazos estão o investimento em recursos e pessoal nas polícias, o aprimoramento do trabalho de investigação e a ocupação social das áreas mais carentes. Se nada disso for feito, dizem, pode haver uma sensação de maior segurança, mas ela dificilmente trará resultados efetivos.
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"Essa receita de pedir socorro ao governo federal vem se repetindo ao longo dos anos", constata o coronel Robson Rodrigues, ex-comandante das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio. "Se os pontos estruturais não forem atacados, será mais do mesmo."
De acordo com o Human Rights Watch, a implementação das UPPs nas comunidades mais violentas surtiu efeito positivo na redução da violência. De 2008 a 2013, o número de homicídios em ações policiais caiu 63%. Nas comunidades com UPPs, o recuo foi de 86%.
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"Infelizmente, esse projeto começou a fracassar por vários motivos, entre eles o fato de a segunda etapa nunca ter acontecido: após a ocupação, era preciso levar às comunidades os serviços de saneamento, cuidados e saúde. Os serviços de segurança pública não vieram acompanhados dos serviços sociais", afirmou a diretora do escritório do Brasil da HRW, Maria Laura Canineu. "Por outro lado, a polícia foi abandonada."
Antropólogo e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Paulo Storani concorda com a colega. "Não adianta ter homens nas comunidades, sendo atacados, sem condições de trabalho." Storani lembrou ainda que a polícia está desfalcada em pelo menos 4 mil homens, que se encontram cedidos a outros órgãos públicos. "Se eles não forem trazidos de volta, saberemos que tudo isso é apenas uma cortina de fumaça, medida para inglês ver."