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Sexo oral e câncer de garganta

O sexo oral poderia aumentar em mais de 20 vezes o risco de câncer de garganta (orofaringe). O grande responsável seria o vírus HPV (do tipo 16). Essa é a principal conclusão de um novo estudo publicado na semana passada pelo periódico médico Jama Oncology. Esse tipo de câncer, que era mais comumente encontrado em pessoas mais velhas, que tinham o hábito de fumar e beber com frequência, vem aumentando de forma importante em populações mais jovens nas últimas décadas. Há muito se suspeitava que o HPV, transmitido, possivelmente, pela prática mais disseminada de sexo oral, tinha um papel importante nessa história. O HPV é o principal responsável pelo câncer de colo de útero, um dos tipos de câncer mais comuns entre as mulheres e também está relacionado à maior incidência da doença em outras áreas ligadas à prática sexual, como vulva, pênis e região anal. O vírus tem o potencial de provocar alterações nas células da mucosa (tecido que reveste internamente nosso corpo) e levar a um câncer. Homens têm duas vezes mais chance de desenvolver um câncer na boca ou na garganta, provavelmente porque o sexo oral praticado em mulheres oferece maior risco do que o praticado em homens. São mais de 500 mil casos novos e 150 mil mortes no mundo, todos os anos. O novo trabalho é o primeiro a encontrar uma associação direta entre a presença do HPV do tipo16 nos fluidos orais e uma incidência aumentada de câncer de orofaringe. Foram avaliadas quase 97 mil pessoas, ao longo de quatro anos, que tiveram suas amostras de saliva colhidas e não apresentavam inicialmente nenhum sinal de câncer. Ao fim do acompanhamento,132 tiveram câncer na garganta. Ao se comparar esse grupo com um de controle, em que as pessoas não adoeceram, a associação com o vírus HPV foi significativa. Um estudo anterior, publicado no The New England Journal of Medicine, já sugeria que pessoas infectadas pelo HPV tinham chance 30 vezes maior de desenvolver câncer da cavidade oral ou da garganta. Outra pesquisa recente, revelada pelo Journal of Clinical Oncology, mostrava que o HPV é hoje responsável por mais casos de câncer de cabeça e pescoço do que álcool ou tabaco. E um trabalho da Universidade da Califórnia sugere ainda que fumar e beber podem facilitar a invasão das células da mucosa da boca e da garganta pelo vírus HPV. Os dados foram publicados pelo jornal Daily Mail.  A maior parte das pessoas entra em contato com algum tipo de HPV (são mais de 100 deles) ao longo da vida. Mas, em geral, nossas defesas combatem o vírus e ele não causa maiores problemas. Em uma minoria dos casos, ele pode driblar a vigilância do sistema imunológico e provocar uma infecção. Se o vírus é de um tipo mais oncogênico (com maior potencial de causar um câncer), como são os casos do 16 e do 18, a doença pode se manifestar.  Vacina contra HPV. As vacinas que existem hoje protegem contra os tipos mais agressivos de HPV. Na maior parte do mundo apenas as garotas estão sendo protegidas em programas públicos de vacinação. Ainda são poucos os países que também vacinam os garotos, caso da Austrália, por exemplo. No Reino Unido e em outros países europeus, a discussão sobre vacinação para meninos está caminhando. No Brasil, recentemente, o Ministério da Saúde alterou o esquema de vacinação para as garotas. As três doses antes recomendadas foram substituídas por duas doses, dadas com um intervalo de seis meses. Isso vale para as meninas na faixa de 9 a 13 anos (que têm melhor resposta imunológica à vacina). Para as demais faixas de idade, a indicação ainda é de três doses. É possível que a vacina, além de proteger contra o câncer de colo de útero e contra as verrugas genitais, também possa garantir benefícios importantes para outros tipos de câncer, como é o caso do de boca e de garganta. A verificar! 

Por Jairo Bouer
Atualização:

*JAIRO BOUER É PSIQUIATRA  

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