SoLyra leva arte a escolas para pessoas especiais em Curitiba

Criado em maio, projeto beneficia mais de 600 adultos e crianças, com exibições pelo menos uma vez por semana

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Por Natalie Vanz Bettoni Gallego Campos
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Finalista do 12º Prêmio Santander Jovem Jornalista, Natalie Vanz Bettoni Gallego Campos é estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Amanda Lyra sempre soube que se tornaria cadeirante. Portadora de atrofia muscular espinhal, uma doença que provoca o enfraquecimento progressivo do corpo, ela só não esperava que uma queda, aos 26 anos, pudesse antecipar essa realidade. Amanda teve de adaptar a vida. Foi forçada a parar de se apresentar como cantora, pela falta de acessibilidade dos bares de Curitiba. Mas não desistiu da arte. Em maio, fundou o Projeto SoLyra, na companhia da também artista Jordana Soletti.

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"Eu não tinha nem como subir no palco", relata Amanda. O acesso de pessoas especiais à arte é complicado tanto da perspectiva do artista quanto da plateia. "Há pessoas que saem da cama, vão para a escola e voltam para a cama. Para uma família com alguém especial, a diversão não é prioridade."

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Em pouco tempo, o SoLyra se tornou uma rede de quase cem artistas, que se revezam em apresentações semanais gratuitas em escolas para pessoas especiais. Amanda passa as manhãs organizando o cronograma do projeto - tarefa difícil, pois, de acordo com a cantora, quem vai a uma apresentação quer ir em todas. O músico curitibano André Pulga confirma: "Somos recebidos com muito carinho. Eles são especiais e fazem com que eu me sinta especial também." 

Mais de 600 pessoas são impactadas pelo projeto, entre crianças e adultos. "A musicalidade é como uma terapia", explica a especialista em Educação Especial Inclusiva Marilei Remar. "O rendimento melhora e os dias ficam mais agradáveis, alegres e divertidos." Não são só os alunos que se beneficiam das apresentações. Os funcionários das escolas compartilham com eles o momento de descontração. 

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O SoLyra está se espalhando por Curitiba. "É uma diretora que conversa com a outra, mães e pais de alunos que nos indicam e o projeto vai crescendo", explica Amanda. Por enquanto, 8 das 43 escolas da cidade voltadas para pessoas especiais contam com ao menos uma apresentação do SoLyra por semana, com artistas como músicos e ilusionistas. A repercussão atraiu patrocinadores como o Rotary e a Tagima, empresa produtora de instrumentos musicais, que garantiu às escolas equipamentosadequados. 

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A iniciativa foi abraçada pela prefeitura de Curitiba, que liberou a Praça da Espanha, importante centro de lazer da cidade, para a realização de um show com artistas especiais. É lá que será lançado o Projeto Lyra, que, em conjunto com o curso de Design da Universidade Federal do Paraná (UFPR), busca aprimorar cadeiras de roda. O plano é que, no futuro, acessórios como bandejas e pedestais fiquem disponíveis em plataformas abertas, para que qualquer um possa adquiri-los com baixo custo por meio de uma impressora 3D.

* Finalista do 12º Prêmio Santander Jovem Jornalista e aluna da Universidade Federal do Paraná (UFPR) 

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