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Spinner, a moda que já gira por São Paulo

Escolas relatam popularização do produto, que começa a causar transtornos na sala de aula

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Por Priscila Mengue
Atualização:

“Serve basicamente para girar.” Assim Natan Valduga Lopes, de 14 anos, resume o spinner, um brinquedo metálico que virou sensação no exterior e, há algumas semanas, no Brasil. Com um canal no YouTube, o garoto viu a sua popularidade estourar após fazer um vídeo com “manobras” para o brinquedo. Em dois dias, teve mais de 86 mil visualizações.

Na Amazon norte-americana, dos dez brinquedos mais vendidos, sete são versões do produto. Em São Paulo, ele está à venda de banca de jornal até ambulantes, com valores que vão de R$ 15 até mais de R$ 1 mil. Com duas lojas físicas e uma virtual, a ToyShow calcula ter vendido 10 mil peças em duas semanas. “Muita gente vem aqui descobrir o que é e acaba saindo com dois, três”, diz o gerente Paulo Ducino.

Sofia Ribeiro e Enrico Cassorla, da escola Stance Dual, brincam no intervalo Foto: Hélvio Romero/Estadão

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Com a procura, a loja organizou um torneio da categoria na semana passada, reunindo 30 participantes. O mais velho tinha 50 anos, enquanto o campeão foi um menino de 8 anos. No torneio, a regra consiste em girar o item pelo máximo de tempo. Entre grupos de jovens, as disputas também ocorrem por meio de duelos, em que um participante deve copiar a técnica mostrada pelo desafiante.

Na sala de aula

Diretora do Colégio Equipe, da zona oeste de São Paulo, Luciana Fevorini relata que o item ficou mais popular há uma semana. “Foi de uma hora para outra. Em um dia, eu vi uma foto dele e, no outro, já tinha um na minha mesa”, comenta, ao se referir a uma “apreensão” de um brinquedo utilizado durante uma aula.

“Eles ficam preocupados em girar o ‘spinner’ e acabam deixando de prestar atenção, como ocorre com o celular. Já tivemos casos em que seis foram recolhidos em uma só aula”, diz ela. Por isso, o item passou a ser permitido apenas no período de intervalo.

Na escola Stance Dual, da zona oeste de São Paulo, está em alta a fabricação do brinquedo por alunos, como Pedro Merino, de 13 anos. “Conhecia histórias de quem pagou caro por um que tinha defeito. Achei melhor construir o meu vendo vídeos no YouTube. Assim, você entende como funciona”, explica.

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Terapêutico

Criado há 20 anos pela mãe de uma criança com doença degenerativa, o brinquedo se tornou sucesso principalmente após ser utilizado por famosos, como Moses, filho de Gwyneth Paltrow e Chris Martin. O que tem causado críticas, contudo, são os boatos de que ele seria antiestresse, o que não tem comprovação científica. 

“É uma ênfase mercadológica que chegou até as crianças. Já vi meninas conversando sobre o assunto, com um discurso quase medicamentoso”, diz a psicóloga Elizabeth Sanada, especialista em Psicologia Escolar. Segundo ela, o objeto pode ser utilizado, mas com parcimônia e como um brinquedo qualquer. “É importante ter um olhar para diversificar e também mostrar que há hora para tudo. Em aula, é fácil que um item colorido como ele disperse os alunos.”

Da mesma forma, o pediatra Lívio Francisco da Silva Chaves ressalta que o tratamento de ansiedade, depressão e autismo, por exemplo, é mais complexo. “Mesmo se o spinner fosse terapêutico, não seria suficiente. Avaliação especializada é essencial e pode requerer auxílio de psicopedagogo, terapia e, às vezes, medicamento”, explica o médico do Departamento Científico de Pediatria de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP)./ COLABOROU ISABELA PALHARES

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