'Tasers filmaram a ação policial há 1 semana’

Investigador do Parlamento garante que policiais serão punidos caso se comprove erro na morte do brasileiro

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Por Jorge Bechara
Atualização:

SYDNEY - Neste sábado, 24, completa-se uma semana da morte de Roberto Laudisio Curti, de 21 anos, em Sydney. Até agora, nenhum fato ou informação ajudou a esclarecer o que realmente aconteceu. Apenas uma das autoridades australianas participando das investigações internas concordou em falar sobre o que está acontecendo: Bruce Barbour, o respeitado ombudsman do Estado de Nova Gales do Sul há 12 anos. Ele deu entrevista exclusiva para o Estado em que revela: toda a ação dos agentes policiais foi filmada.

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Laudisio é suspeito de levar um pacote de biscoito de uma loja de conveniência, às 5 horas de domingo (15 horas de sábado, no Brasil). A polícia foi avisada e, meia hora depois, iniciou a perseguição ao brasileiro na área de King’s Cross, conhecida pela vida noturna. Cercado por seis agentes, ele foi alvo de pelo menos quatro golpes de arma Taser (de eletrochoque). Barbour garante que, se ocorreram excessos, "haverá punições".

Neste sábado, será realizada às 10h a Missa de 7.º Dia de Laudisio, na Capela do Colégio Nossa Senhora de Sion, em Higienópolis, na região central de São Paulo. Colegas e amigos remarcaram um protesto com biscoitos, na frente do Consulado da Austrália, para o dia 31.

O que foi feito até agora?

Necropsia, exame de documentos e filmes de câmeras de segurança das ruas, dos estabelecimentos e das armas. Todas as armas Taser usadas na Austrália têm uma câmera embutida, filmando as ações policiais na direção do disparo. Toda Taser é examinada após a ação policial, para termos certeza de que foram usadas de modo apropriado. Elas serão essenciais para examinar as circunstâncias da morte de Roberto Laudisio Curti. Além disso, já foram feitas entrevistas com amigos, pessoas com quem ele esteve à noite e testemunhas da perseguição.

O que se pode dizer da intervenção policial até agora?

Estou acompanhando absolutamente tudo. Sei que há poucas informações disponíveis e entendo a ansiedade de todos os envolvidos. O que o público viu causa ansiedade e confusão. Mas garanto a todos que, se houve qualquer erro, os agentes serão responsabilizados.

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O senhor está entre os críticos das Tasers...

Eu não sou contra o uso de Taser, mas recomendei que não deveriam ser utilizados na Austrália, antes de estudos sobre seu uso em outros países, principalmente nos Estados Unidos. Há quatro anos, eu disse que causavam muitos problemas onde eram usados. Eu não queria isso aqui.

Quais providências são adotadas pelas autoridades para o uso dessas armas?

Temos regras fortes que, se forem seguidas, podem fazer essas armas serem úteis para a polícia. É melhor que uma arma de fogo. Mas devem ser usadas só em situações de alto risco.

Em quanto tempo saberemos os resultados da investigação?

A investigação policial ainda vai demorar mais de uma semana. Só os laudos da perícia vão demorar mais de um mês para sair e não há previsão de quando teremos a análise final sobre o que aconteceu. Isso dependerá do médico-legista, que tenho certeza de que agirá o mais rápido possível. Apenas ele poderá dizer a causa da morte.

Sabe-se com exatidão quando o corpo será liberado?

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Nem eu nem a polícia temos informação sobre isso. É decisão do legista, não há prazo.

O que pode ser revelado ao público hoje sobre a investigação?

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Eu entendo perfeitamente a expectativa das pessoas no Brasil sobre esse caso. Todos nós queremos respostas. Agora temos de garantir que os procedimentos sejam corretos e muitas vezes investigações e informações públicas não combinam. Mas talvez haja alguma informação para o público quando a polícia terminar as investigações.

O senhor tem total independência para agir nesse caso?

O ombudsman é completamente independente. Eu não trabalho para o governo, eu respondo apenas para o Parlamento. O governo não pode interferir nas minhas atividades. Eu tenho um cargo forte, sou justo e independente. Brasileiros e australianos podem tem certeza que a investigação será conduzida corretamente. Se não for, tomarei providências. Tenho uma considerável experiência em investigações policiais. Se eles (os policiais) agiram errado, nós faremos que sejam responsabilizados. E eles sabem disso.

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