Tecnologia de satélites é prioridade estratégica

Dilma quer produzir no Brasil modelos para vigilância e antecipação climática

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A compra dos novos caças para a aviação militar está fora da agenda formal das discussões dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos. Nessa área, que margeia os limites entre a pauta estratégica e a da Defesa, virou prioridade o acordo de cooperação para o desenvolvimento conjunto de satélites.O Brasil vai precisar de quatro veículos ao longo dos próximos 15 anos. Embora haja capacidade no País para a construção de determinados modelos, as pretensões agora são de grande abrangência - tipos de alta tecnologia e múltiplo emprego; componentes fundamentais para a consolidação dos programas de controle do mar, da fronteira terrestre e da expansão das facilidades de proteção aérea.O tema é tão relevante que, há dois dias, era cotado para entrar na declaração conjunta de Dilma Rousseff e Barack Obama. A presidente brasileira considera prioritário adquirir capacidade na análise do clima e acompanhamento ambiental por meio de satélites. Washington e Brasília negociam a produção integrada, mais o lançamento de uma plataforma na órbita equatorial, destinada a coletar informações que permitam antecipar a ocorrência de desastres naturais.Assuntos delicados. A pretensão brasileira de ter assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas será debatida, concordam o chanceler Antonio Patriota e o subsecretário de Estado Arturo Valenzuela - mas o apoio que Obama pode eventualmente oferecer à tese é apenas o mesmo que já apresentou à Índia, há três meses: a abertura do conselho a novos países é boa, mas depende de uma ONU reformada. Analistas do Centro Nacional de Estudos da Defesa, em Washington, sustentam que a reforma prevista pela diplomacia americana espera um aumento significativo do conselho, talvez para até 35 vagas, das quais ao menos 15 fixas - todavia, preservando o núcleo duro e com direito a veto nas deliberações, formado pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia. O assunto estratégico que interessa aos Estados Unidos é o fornecimento futuro - mas não distante - de petróleo e gás. Na semana passada, em Washington, Obama afirmou que, "está tomando medidas" para "reunir os dados sobre os recursos de energia fóssil no Atlântico Sul". Embora à essa declaração esteja implícito um considerável trabalho de inteligência, o presidente anunciou em seguida que discutiria a questão na visita ao Brasil, definido, então, como "fornecedor potencial de petróleo aos Estados Unidos".No viés específico da Defesa, o governo americano está desconfortável com a posição assumida pela administração brasileira na proposta de expansão da área de atuação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em setembro de 2010, o ministro Nelson Jobim disse, em Lisboa, que vê "com reservas quaisquer iniciativas que procurem, de alguma forma, associar o Norte do Atlântico ao Atlântico Sul - sendo o sul área geoestratégica de interesse vital para o Brasil". Segundo ele, "as questões de segurança das duas metades desse oceano são distintas". Para Jobim, depois da guerra fria, a Otan "passou a servir de instrumento de seu membro exponencial, os Estados Unidos, e dos aliados europeus". Por meio do novo conceito da aliança, a força pode intervir em qualquer parte do mundo a pretexto de ações antiterror ou humanitárias, nas ameaças à democracia, agressões ambientais ou proteção às populações civis.A contrapartida pode ser o estímulo à cooperação militar bilateral, com o envolvimento direto das Forças Armadas do País em missões conjuntas, regionais ou globais, como analisa o cientista social Salvador Raza (leia entrevista ao lado).No tópico da transferência de alta tecnologia de sistemas militares, o professor Gunther Rudzit, especialista em relações internacionais, não vê razões para que se espere grandes mudanças na postura em relação a um setor que "não depende do Executivo, mas sim do Congresso americano, pouco flexível nesse campo".

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