Teleférico do Alemão inclui favelas da zona norte ao roteiro turístico do Rio

Sistema revela paisagens pouco conhecidas da cidade e expõe ainda mais as contradições

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Por Alfredo Junqueira
Atualização:

RIO - Previsto para a última semana de maio, o início das operações do teleférico do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, deve incluir definitivamente o conjunto de comunidades no roteiro turístico da cidade. Com 3,4 quilômetros de extensão e seis estações espalhadas pelas 16 favelas da região, o sistema revela paisagens e belezas pouco conhecidas do Rio e expõe ainda mais as contradições da cidade - capaz de erguer empreendimento de engenharia espetacular ao lado de bolsões de miséria e de abandono.

 

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A região, considerada um quartel-general do tráfico de drogas até a ocupação pelo Exército cinco meses atrás, reúne cerca de 70 mil pessoas. De acordo com o governo do Estado do Rio, responsável pelas obras, o teleférico vai reduzir de uma hora para pouco menos de 20 minutos o tempo gasto para percorrer os extremos do complexo. Nesta quarta-feira, o Estado experimentou os potenciais turístico e de transporte do sistema.

 

As 152 gôndolas são confortáveis, apesar de quentes. Praticamente não se ouve ruídos durante o percurso. O momento mais impressionante do passeio acontece entre as estações do Morro do Alemão e do Itararé. A velocidade da gôndola e a altura em relação ao solo dão a impressão de que o usuário está voando. Embaixo fica a famosa rua Joaquim de Queiroz, uma das principais vias do complexo, e a favela da Grota - locais que viviam cheios de traficantes e principal rota de entrada das Forças Armadas na comunidade em novembro.

 

"Esse aqui morreu de medo", apontou o menino André Ferreira Lopes Jose, 12 anos, para o amigo Nelson Thiago Soares, 8, durante o passeio. Moradores do Morro do Adeus, o dois foram convidados pela reportagem para dar suas impressões ao longo do trajeto.

 

"Vou ficar fanático. Só quero saber o preço da passagem para andar nesse negócio", dizia exultante André. Ao ser informado que os moradores teriam duas viagens diárias gratuitas, o menino não se conteve: "O quê?!? Vou fazer um estrago. Vou me acabar aqui."

 

Faltam detalhes de acabamento nas estações e alguns testes finais para o teleférico começar a funcionar regularmente. A última estação do sistema, na comunidade da Fazendinha, ainda abriga o comando do Exército na operação de ocupação da comunidade.

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Ainda de acordo com o governo, também faltam detalhes para se fechar o acordo para que a SuperVia - a criticada concessionária que explora os trens do Estado - assuma as operações do teleférico. O sistema terá capacidade de transportar até 1.500 pessoas simultaneamente. A expectativa é de 30 mil viagens por dia. O custo total da obra foi de R$ 210 milhões.

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