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Trem com ministros é baleado no Rio

Comitiva foi atacada 2 vezes perto do Jacarezinho; em pânico, autoridades e passageiros se jogaram no chão

Por Alexandre Rodrigues e Felipe Werneck
Atualização:

O trem em que viajavam ontem os ministros das Cidades, Márcio Fortes, e da Secretaria Nacional dos Portos, Pedro Brito, foi atacado duas vezes a tiros por traficantes da Favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio. O incidente obrigou os ministros, convidados e jornalistas a se jogarem no chão para se proteger. Os dois vistoriavam obras de remoção de favelas nas margens da ferrovia, ao lado do secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes. Veja como aconteceu o tiroteio Ainda pela manhã, o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame, classificou o incidente de ''''absurdo'''' e anunciou ''''providências''''. ''''Não vamos permitir que isso passe em branco.'''' À tarde, cerca de cem policiais fizeram uma operação no Jacarezinho. Ela foi ordenada pelo governador Sérgio Cabral, ''''diante da ousadia dos criminosos''''. Uma pessoa morreu e três ficaram feridas. Indagado se teve medo no ataque ao trem, Brito ressaltou que ''''não teve tempo'''' para isso. Apesar de se dizer habituado a transitar em favelas, Márcio Fortes admitiu que se viu diante de um tiroteio pela primeira vez. O primeiro ataque ao trem aconteceu por volta das 10h30. Apesar de alertados pela Polícia Militar de que o trajeto seria arriscado (veja abaixo), os ministros e o secretário Lopes decidiram embarcar no trem da MRS, que opera a ferrovia de uso exclusivo para o transporte de cargas. A companhia preparou dois vagões especiais - um para os ministros e convidados e outro para os jornalistas. Depois de passar pela extensão de 1.500 metros onde 450 barracos (já removidos, e com as famílias devidamente assentadas) foram demolidos por invadir a área da linha férrea, a composição seguiu na direção do bairro de Maria da Graça, na zona norte, para que os ministros pudessem ver a região do Jacarezinho. Ali será feita a segunda etapa do projeto de liberação do entorno da via, com a remoção de cerca de 50 barracos. Quando o trem se aproximou da favela, pelo menos quatro criminosos armados, aparentando ser adolescentes, atiraram. Foram feitos pelo menos cinco disparos de pistola. Houve pânico e os passageiros se jogaram no chão. Nesse trecho, a via de cargas é paralela a duas linhas utilizadas pela Supervia, concessionária de trens de passageiros. Os tiros vieram do lado esquerdo. As casas que serão removidas no local ficam do lado direito. Os passageiros chegaram a ver os criminosos com pistolas nos trilhos, à esquerda do vagão, e também em cima de uma das casas da favela. O trem só parou nos fundos da Estação Maria da Graça do Metrô, próximo da Estação Del Castilho do trem. Na volta, o maquinista aumentou a velocidade de 20 km/h para 40 km/h, mas não conseguiu evitar que a composição fosse novamente atacada a tiros - com maior intensidade. PMs fardados e à paisana revidaram. O ministro Márcio Fortes disse que não havia outra alternativa ao grupo, além de voltar pela linha férrea ao Porto do Rio. ''''Eu falei que eles poderiam atirar de novo na volta e acabou mesmo acontecendo. Na ida, não me abalei e fiquei na minha cadeira. Na volta, eu me abaixei porque os funcionários pediram. Talvez o fato de um trem diferente passar por ali, com muitos fotógrafos, tenha incomodado. Não sei se o pessoal do mal achou que era invasão'''', disse. VAGÕES REFORÇADOS O gerente de Arrendamento e Patrimônio da MRS, Sérgio Carrato, afirmou que nunca havia ocorrido incidente semelhante. Ele também acredita que as lentes dos fotógrafos podem ter incomodado os criminosos. Júlio Lopes, por sua vez, disse que integrantes do governo estadual transitavam várias vezes pelo trecho, sem serem incomodados. Segundo Carrato, nenhuma bala atingiu o interior de nenhum vagão. As composições do antigo Trem de Prata faziam o trajeto Rio-São Paulo. ''''Elas são feitas de aço inox e têm vidros de policarbonato. Não são vagões blindados, mas muito resistentes. Tomamos esses cuidados para minimizar o vandalismo.''''

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