Vítimas de bombas recebem indenização

Parentes não terão de ir ao Japão

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Por Mônica Cardoso e SÃO PAULO
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Os parentes de dois japoneses, que sobreviveram às bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki e depois se mudaram para o Brasil, vão receber indenização de 1,65 milhão de ienes (US$ 16.262). A família não quis divulgar os nomes dos sobreviventes, mas o Estado apurou que se trata de um homem de Nagasaki que morava no interior de São Paulo e uma mulher de Hiroshima que vivia no Rio. As vítimas, que já morreram, solicitaram a indenização em março de 2006, mas o governo de Hiroshima rejeitou o pedido. Ontem, a Corte da cidade japonesa ordenou que o governo pague a indenização pelo stress emocional sofrido pelos sobreviventes. O presidente do tribunal, o juiz Akio Nose, disse que a recusa do Estado em pagar os benefícios "é um abuso de poder". A decisão judicial abre precedente para que os sobreviventes das bombas que morem em qualquer lugar do mundo recebam o benefício em seus países. Antes, era exigido que os sobreviventes, chamados de hibakushas, fossem ao Japão para receber. O governo japonês até ajudava nas despesas da passagem, porém muitos não podiam viajar por causa da idade ou por problemas de saúde. "Os dois até tinham documentos que moravam nas cidades no momento da tragédia, mas eles eram bem velhinhos para viajar até o Japão", diz Yasuko Saito, diretora da Associação Brasileira das Vítimas da Bomba Atômica, que reúne mais de 120 sobreviventes de todo o Brasil. Além do País, muitos japoneses das cidades atingidas pelas bombas migraram para os Estados Unidos e o Canadá. O pai de Yasuko, Takashi Morita, é presidente da Associação e sobrevivente de Hiroshima. Ele luta há mais de 20 anos para a concessão do benefício sem a obrigatoriedade de ir até o Japão. "Dá até raiva porque a decisão da Justiça demorou muito e os dois já morreram", diz. A partir de amanhã, será realizada a exposição Bomba Atômica 1945: Hiroshima e Nagasaki, promovida em parceria pela Associação Brasileira das Vítimas da Bomba Atômica e pela Associação Hibakusha. A mostra é gratuita e será realizada no Memorial do Imigrante, na Mooca, zona leste. O objetivo é lembrar o ataque. A mostra traz 58 painéis e 16 objetos, originais ou reproduções, como roupas, utensílios domésticos e vidros retorcidos. "Nosso intuito é conscientizar os jovens de que o perigo nuclear não acabou e seus efeitos são mais rápidos do que o aquecimento global", diz Yasuko.

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