Weslian usa aborto na campanha do DF

Candidata ao governo pelo PSC utiliza no horário eleitoral imagens de padre católico condenando o PT para prejudicar adversário petista

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Por Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA
Atualização:

As cenas de um padre da emissora de TV católica Canção Nova acusando o PT de apoiar o aborto tem causado dores de cabeça à campanha do petista Agnelo Queiroz, candidato ao governo do Distrito Federal. As imagens voltaram a ser exibidas pelo programa de sua adversária, Weslian Roriz (PSC), que tem associado o adversário à polêmica questão, tal como vem ocorrendo com a presidenciável Dilma Rousseff.O Tribunal Regional Eleitoral do DF negou ontem cinco pedidos liminares de suspensão da fala do padre. No primeiro turno, Agnelo recebeu 48,41% dos votos e Weslian, 31,5%."Se neste segundo turno, eu vou falar com clareza, o PT ganhar... Tô falando claro, pode me matar, pode me prender, pode fazer o que quiser, mas eu não posso me calar diante de um partido que está apoiando o aborto, que a Igreja não aprova. Eu sou a favor da vida", diz o padre José Augusto. A cena é seguida pela mensagem "Vote pela vida, vote Weslian Roriz", pronunciada pelo locutor da candidata.Weslian é apresentada no programa como uma mulher que "defende a vida no útero, até a idade adulta". Em outro momento, uma popular lamenta ter o sangue vermelho, cor do PT. "Se pudesse mudar, mudava para azul", diz.Para o coordenador de comunicação da campanha de Agnelo, Luís Costa Pinto, a tática rorizista é sinal de "desespero". "Do ponto de vista eleitoral, é inócua. Estão baixando o nível, apelando para a baixaria, como tradicionalmente ocorre nas campanhas de (Joaquim) Roriz", avaliou. "É uma estratégia de desespero, de quem não tem propostas." O coordenador da campanha de Weslian, Paulo Fona, rechaça as críticas. "Ninguém mentiu, fez injúria ou difamação. É um padre que tem uma opinião, compartilhada pela nossa candidata", disse. "É bom que (os petistas) digam que é baixaria, porque demonstra como tratam uma questão séria como o aborto." Para blindar o candidato, o programa de Agnelo voltou a exibir imagens em que dois pastores da Assembleia de Deus e um padre elogiam o petista. A situação de Agnelo é considerada mais confortável que a de Dilma, que já disse publicamente ser favorável à descriminalização do aborto, embora tenha adotado discurso menos controverso desde o início da campanha."A posição do Agnelo é muito clara. Em nenhum momento houve dúvida em relação à opinião dele", disse o senador eleito Rodrigo Rollemberg (PSB). Assim como Rollemberg, o senador reeleito Cristovam Buarque (PDT) lamenta a estratégia de Weslian Roriz. "Eu fico triste de ver que o tema da cristandade, que é uma coisa tão pura e tão séria, esteja sendo rebaixado como mote eleitoral." Debate. No debate da TV Globo, exibido no último dia 28, Weslian provocou Agnelo, questionando sua opinião sobre o assunto. "Eu gostaria de fazer uma pergunta pro senhor: o senhor foi do Partido Comunista, que não acredita em Deus, e agora está no PT, que expulsou quem é contra o aborto. O senhor é a favor ou contra o aborto?", indagou, após ser questionada pelo petista sobre transporte público.Acuado, Agnelo respondeu em outro bloco que era "cristão" e "contra o aborto". Sem citar nomes, o ex-ministro criticou pessoas que "usam o nome de Deus para fazer todo tipo de maracutaia" na cidade. Um novo debate entre os dois está marcado para hoje, na TV Bandeirantes. A presença de Agnelo foi confirmada, enquanto Weslian Roriz deverá decidir "em cima da hora" se vai ou não participar, informou a campanha da candidata. "Da primeira (vez), eu fui segura. Agora se eu for, vou tirar de letra", disse Weslian na semana passada.

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