Alunos dizem que casos de homofobia são frequentes na UFRJ

Estudante foi assassinado no câmpus da Ilha do Fundão no sábado; Diego Vieira Machado era ativista dos direitos da população LGBT

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Por Roberta Pennafort
Atualização:

RIO - Alunos e professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em cujo câmpus da Ilha do Fundão, na zona norte da capital fluminense, foi assassinado o estudante Diego Vieira Machado, no sábado, 2, relatam episódios de homofobia recorrentes em suas dependências.

No banheiro da Escola de Comunicação, no câmpus da Praia Vermelha, na zona sul, foi feita uma pichação com a inscrição "Morte aos gays da UFRJ". Em outro banheiro, este no Centro Técnico da Engenharia, no Fundão, foi escrito "Só tem viado (sic) nessa porra". 

Decanos da UFRJ discutem assassinato do aluno Diego Vieira Machado Foto: Roberta Pennafort/Estadão

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"Não podemos naturalizar esse discurso de ódio. É um corpo negro e gay abatido no chão. É um sinal da onda de conservadorismo na universidade, que acaba não só com a nossa liberdade, mas com a nossa vida", disse o aluno de Engenharia Brenner Oliveira, de 24 anos, do Diretório Central dos Estudantes, que está organizando um ato para a próxima quinta-feira, 7, em memória do colega vitimado.

O reitor da UFRJ, Roberto Lehrer, classificou o crime de "bárbaro e perverso". "Essas formas de expressão homofóbicas são inadmissíveis. Somos um espaço civilizatório e não podemos aceitar qualquer forma de intolerância que diga respeito a racismo e homofobia", afirmou.

Ele citou uma mensagem de teor ameaçador contra gays que teria Diego Vieira Machado como alvo. O e-mail, que teria sido enviado de dentro da universidade, circula há dois meses e está sendo investigado pela Polícia Federal. O reitor disse que já se sabe que ele partiu de um computador do Canadá.

Nas redes sociais, alunos da UFRJ iniciaram uma campanha por justiça Foto: Facebook/Reprodução

Lehrer preside uma sessão plenária que trata do assunto. A reunião, entre decanos, já estava marcada e conta com a participação de estudantes.

Eleonora Ziller, diretora da faculdade de Letras, onde o aluno morto estudava, disse que o fato de ele ser um ativista dos direitos das pessoas LGBT torna o crime ainda mais grave. "Se é assim que vamos lidar com a diversidade na UFRJ, é melhor fecharmos as portas."

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Ela citou também outros casos de violência no Fundão, como o estupro de uma caloura, que não teve coragem de denunciar o crime à polícia. "Quantos mais não se denunciaram por medo?"

O rapaz morava no alojamento do Fundão, por ser do Pará. Ele tinha 24 anos e foi encontrado morto às margens da Baía de Guanabara, com marcas de escapamento e sem as calças. Todos os indícios levam a crer que o assassino foi movido por ódio a homossexuais.