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Câmeras mostram marido matando dançarina de funk

Assassino instalou equipamento três dias antes do crime e será indiciado por feminicídio; durante bate-boca, ele atirou várias vezes

Por Clarissa Thomé
Atualização:

Atualizada às 17h48

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RIO - Dono de vans, Milton Severiano Vieira, de 32 anos, foi preso pelo assassinato da mulher, Amanda Bueno, de 29 anos, ex-dançarina dos grupos de funk Gaiola das Popozudas e Jaula das Gostozudas. Imagens do sistema de segurança, instalado por Vieira em casa três dias antes, flagraram o crime. Vieira foi indiciado por feminicídio, assassinato cometido contra mulheres em razão do gênero ou em decorrência de violência doméstica. 

Em poder da polícia, as filmagens mostram que Amanda e Vieira começaram a discutir no fim da tarde de quinta-feira, 16, na casa em que viviam em Nova Iguaçu, cidade na Baixada Fluminense. O bate-boca vira agressão. Vieira a derruba e a seguir bate com a cabeça de Amanda violentamente no chão. Depois, a golpeia várias vezes com uma pistola. A dançarina desmaia no chão. Ele pega uma escopeta calibre 12 e dispara cinco vezes contra a cabeça da mulher.

As imagens do circuito interno de segurança e fotos do corpo da dançarina foram compartilhadas nas redes sociais. 

A lei tipificando o crime de feminicídio foi sancionado em março deste ano pela presidente Dilma Rousseff. O delegado Fábio Salvadoretti, da Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), classificou as imagens como “cruéis a ponto de chocar até os policiais”. A polícia vai investigar se Vieira é ligado à milícia que atua na Baixada Fluminense e controla o transporte de vans.

Amanda Bueno, de 29 anos, era ex-integrante do grupo de funk Jaula das Gostozudas Foto: Facebook/Reprodução

Depois de matar a mulher, Vieira roubou o carro de um vizinho, policial militar. O criminoso chegou a disparar com a escopeta para intimidar o PM. Horas depois do crime, ele parou o Gol na Via Dutra (Rio-São Paulo), desligou o motor e apagou as luzes. Foi atingido por um carro. 
Com o impacto, o Gol capotou. Preso às ferragens, Vieira estava com a pistola e a escopeta usadas no crime, além de mais duas pistolas e um revólver. Ele tinha porte intramuros, que só permite o uso de armas dentro de casa.
Segundo o advogado Hugo Assumpção, Vieira está “arrependido” e sabe que terá de “pagar pelo que fez”. O dono de vans teria “surtado” ao receber imagens pelo celular de uma suposta traição de Amanda. Assumpção negou haver ligação do cliente com a milicianos e disse que as vans são legalizadas.
“Ele é uma pessoa centrada, que num momento de ira perdeu a cabeça. Ele toma remédios controlados e não poderia beber. O crime foi cometido porque várias circunstâncias infelizes se juntaram: as imagens que ele recebeu, a mistura de remédios com bebida e o porte de armas. Se fosse mais fiscalizado o acesso ao porte de armas, isso não teria acontecido. Não deveriam dar porte para quem tem surto psicopata”, afirmou Assumpção.

Vieira e Amanda já viviam juntos e ficaram noivos no último domingo, com festa para amigos. Assumpção disse que o cliente já havia tido outros surtos, mas jamais agredira a mulher. “Eles fizeram um boletim de ocorrência de mútua agressão, mas depois ela retirou a queixa.” Segundo o advogado, Vieira “sustentava” a família de Amanda - mãe e filha de 13 anos.
No Facebook, a cantora Valesca Popuzuda lamentou a morte da ex-colega. “Uma moça que teve seus sonhos interrompidos deixando amigos e família órfãos de seu sorriso e sua presença. Amanda, assim como muitas mulheres no mundo, foi vítima de violência doméstica. Existem donas de casas, advogadas, médicas que sofrem da mesma violência que Amanda sofreu. Infelizmente, o fim dela foi triste e de uma forma violenta e trágica. Fica meu respeito pela pessoa da Amanda, ficam as lembranças dos shows, as risadas nas viagens e a lembrança da garra que ela tinha em querer um futuro melhor para sua filha e sua mãe”, escreveu.

Para entender: Feminicídio é crime hediondo

A lei que classifica o assassinato de mulheres decorrente de violência doméstica ou de discriminação de gênero como crime hediondo foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 9 de março.

A chamada Lei do Feminicídio inclui esse crime entre os tipos de homicídio qualificado. A punição, nesse caso, é reclusão de 12 a 30 anos. Já a pena para homicídio simples é de seis a 20 anos.

O texto prevê ainda aumento da pena em um terço se o assassinato for durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; se for contra adolescente menor de 14 anos ou adulto acima de 60 anos; ou, ainda, contra pessoa com deficiência. A pena é maior também quando o crime for cometido na presença dos pais ou dos filhos da vítima.

A condenação por crime hediondo também prevê o cumprimento da pena inicialmente em regime fechado. A progressão só poderá ocorrer após cumprimento de dois quintos da pena, se o condenado for primário.

O projeto foi elaborado pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência contra a Mulher.

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Na justificativa do projeto, a CPMI destacou que, entre os anos 2000 e 2010, aproximadamente 43,7 mil mulheres foram mortas no Brasil, vítimas de homicídio. Atualmente, calcula-se que aconteçam mais de dez feminicídios por dia no País.

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