PUBLICIDADE

Centro espiritual é atacado pela 3ª vez em menos de um mês no Rio

Portão da Casa do Mago foi incendiado; para secretário de Direitos Humanos, crime é de intolerância religiosa

Por Fabio Grellet
Atualização:
Casa do Mago foi atacada na madrugada desta quarta Foto: Reprodução/Google Street View

A Casa do Mago, um centro espiritual sediado no Humaitá, na zona sul do Rio, foi atacado pela terceira vez em 16 dias, na madrugada desta quarta-feira, 16. Câmeras de segurança registraram quando dois homens jogaram um líquido no portão e depois lançaram uma bomba para dentro do imóvel. Houve explosão e chamas. Ninguém se feriu. O caso foi registrado na Polícia Civil, que não havia identificado os autores do atentado até o início da noite desta quarta.

PUBLICIDADE

O primeiro ataque desta série ocorreu às 22h30 de 31 de julho. Dois homens a pé jogaram um líquido combustível na face externa do portão e atearam fogo. Imagens de uma câmera de segurança mostram que o fogo chegou a atingir um dos criminosos. O suspeito fugiu correndo enquanto tentava apagar as chamas da roupa. O incêndio danificou o portão e um letreiro do estabelecimento.

Menos de 48 horas depois, por volta das 18h de 2 de agosto, dois homens em uma moto pararam na frente da Casa do Mago e lançaram uma bomba feita com explosivos e pregos para dentro do imóvel. Uma funcionária do estabelecimento estava perto do local da explosão, mas não foi ferida. Os dois homens fugiram na moto.

O último atentado ocorreu por volta da 1h desta quarta-feira. Um carro preto parou na frente do imóvel, um homem desembarcou, jogou um líquido na face externa do portão e voltou ao veículo. Outro rapaz, com o rosto coberto por um pano, saiu do automóvel e lançou um artefato por sobre o portão. A explosão causou danos. O Esquadrão Antibombas da Polícia Civil identificou que a bomba foi fabricada artesanalmente, com fogos de artifício e pregos.

“Estamos vivendo uma guerra religiosa. A intolerância se acirrou”, afirma Ubirajara Pinheiro, de 63 anos, que é dono da Casa do Mago e gosta de ser chamado de mago. Dentro do imóvel, cuja frente é ornamentada por uma grande imagem de São Jorge, ele dá orientações espirituais. “Tem cada vez mais gente achando que só pode ser de uma religião, só pode usar uma cor de roupa. Eu atendo pessoas de todas as raças, todas as crenças, não tenho preconceito”, afirma.

A secretária municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, Teresa Bergher, conversou com Pinheiro após o atentado desta madrugada e divulgou nota sobre o episódio. “Não são fatos isolados e precisam ser apurados com rigor. Não podemos assistir de braços cruzados à intolerância religiosa que vem ganhando força no nosso município. Estamos diante de um movimento organizado por grupos extremistas que pregam o ódio contra minorias. Se não fizermos nada, estes movimentos podem se tornar incontroláveis, dando início a uma verdadeira 'guerra religiosa'. No Rio todas as religiões sempre conviveram pacificamente. Mas, de um tempo pra cá, atos de intolerância têm sido recorrente. Acionamos a polícia e vamos encaminhar representação ao Ministério Público para que estes casos sejam apurados e a Justiça aplique todo o rigor da lei contra estes criminosos”, afirma a nota.

O secretário estadual de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos, Átila Nunes, também condenou o ataque: “Esse ato de intolerância religiosa não foi realizado por um ‘lobo solitário’. Os criminosos, assim como no ataque anterior, usaram uma bomba caseira, feita com pregos, chegaram de carro e com os rostos cobertos. A perseguição não é apenas contra o mago, pois se fosse algo pessoal eles também poderiam agir fora do templo. A perseguição é religiosa. Ao atacarem um templo de matriz africana, que expõe imagens de santos e cultua os orixás, eles atacam a religião e todos os umbandistas e candomblecistas. Milícias religiosas podem estar por trás de ataques à Casa do Mago”, afirmou.

Publicidade

Segundo a pasta de Nunes, apenas durante a semana a secretaria recebeu denúncias de 15 casos de intolerância religiosa no Estado do Rio.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.