Ciclovia tinha trincas antes da abertura

Falhas estão registradas em relatório do TCM do Rio datado de julho; prefeito admitiu que construção foi malfeita e aguarda laudos técnicos

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Por Daniela Amorim (Broadcast), Clarissa Thomé e Constança Rezende
Atualização:

O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), reconheceu ontem que a Ciclovia Tim Maia, que teve parte da pista derrubada em meio a uma ressaca na quinta-feira, matando duas pessoas, foi malfeita. Embora tenha sido inaugurada há apenas três meses, vários trechos apresentam rachaduras e um relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) do ano passado apontou trincas na pista.

“É óbvio que, se essa ciclovia tivesse sido feita de forma perfeita, não teríamos essa tragédia, esse absurdo. Então obviamente tem problemas ali”, declarou Paes, ontem de tarde. O relatório de julho da 2.ª Inspetoria Geral de Controle Externo do TCM informa que as falhas apareceram próximo do mirante do Leblon. Os técnicos também apontaram depressões. As informações foram publicadas pelo jornal O Dia. Já o Estado observou rachaduras ontem na pista, na mesma área do Leblon, o que também motivava preocupação dos ciclistas.

Trecho que desabou da ciclovia Tim Maia, na Avenida Niemeyer, na Zona Sul do Rio de Janeiro Foto: Fábio Motta/Estadão

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O TCM recomendou que as falhas fossem corrigidas para evitar “posterior necessidade de manutenção”. O prefeito disse que todas as contestações foram acatadas, debatidas ou respondidas pela prefeitura. Ele ressaltou, porém, que só será possível determinar as causas do acidente após a conclusão de duas auditorias independentes. 

O engenheiro Moacyr Duarte, especialista em gerenciamento de risco e pesquisador da Coppe/UFRJ, criticou o fato de a prefeitura ter aceitado receber a ciclovia com falhas. “O conserto vai custar uma boa quantidade de dinheiro e a imagem da cidade foi maculada.” 

Construtora. A Concremat, empresa que construiu a ciclovia, possui ainda contrato com a Prefeitura para fazer o gerenciamento de sete obras ligadas à Olimpíada– como destacou ontem o jornal O Globo. Um desses contratos refere-se à própria ciclovia. No entanto, Paes explicou que os contratos são relativos ao acompanhamento do cronograma da obra, e não à fiscalização da qualidade. 

A empreiteira pertence à família do secretário municipal de Turismo, Antônio Pedro Figueira de Melo. Na gestão Paes, o município já desembolsou R$ 186 milhões com a Concremat, crescimento de 463% em relação ao período de 2000 a 2008. Entretanto, o prefeito alega que todas as 350 empresas que trabalham para a Prefeitura provavelmente tiveram aumento no volume recebido, porque se elevou em 900% o total de investimentos no período. A gestão Paes investiu R$ 39,243 bilhões de 2009 a 2016, ante R$ 4,404 bilhões de 2000 a 2008. “É mais do que natural o aumento nos repasses”, defendeu. 

A prefeitura bloqueou o pagamento da parcela de R$ 4,47 milhões ainda devida à Concremat até que saia o resultado final das investigações sobre a ciclovia. O valor equivale a 10% do custo total da obra.

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