Com menos verba da prefeitura, escolas de samba do Rio estudam cancelar ensaios técnicos

Estas apresentações, realizadas nos finais de semana anteriores ao desfile, têm entrada gratuita e para muitos foliões são a única chance de ver sua escola preferida

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Por Fabio Grellet
Atualização:
Prefeito do Rio anunciou corte de verba para escolas de samba Foto: MARCOS DE PAULA/ESTADÃO

RIO - Vinte e seis dias após anunciar que não haveria desfile das escolas de samba no próximo carnaval, em função do corte de verbas oferecidas pela Prefeitura do Rio, os presidentes das agremiações afirmaram nesta segunda-feira, 10, após reunião com o prefeito Marcelo Crivella (PRB), que o desfile será realizado, provavelmente com algumas mudanças para que as escolas economizem, e os ensaios técnicos é que correm o risco de desaparecer. 

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Esses ensaios, realizados nos finais de semana anteriores ao carnaval, têm entrada gratuita e para muitos foliões são a única chance de ver sua escola preferida. Para os dias de desfile oficial - fora as arquibancadas populares, cujos ingressos são vendidos a R$ 10 e costumam ser revendidos por cambistas a cerca de R$ 50 - o convite mais barato custa R$ 220.

O gasto da Liga das Escolas de Samba do Rio (Liesa) com os ensaios técnicos é de aproximadamente R$ 4 milhões por temporada, segundo a entidade. Além disso, cada escola gasta de R$ 150 mil a R$ 200 mil em cada uma dessas exibições, estimou o presidente da Mangueira, deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PTN). Cada escola faz um ensaio por carnaval. Desfilam nesse período 26 escolas - 13 do Grupo Especial e 13 da Série A, correspondente à segunda divisão.

Segundo o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, os ensaios técnicos só serão realizados se a entidade conseguir patrocinadores. “Se a Liga não conseguir patrocínio, não tem como fazer. Está (suspenso) sim”, afirmou Castanheira à imprensa.

“Não vai ter ensaio técnico. Cada ensaio custa para as escolas de R$ 150 mil a R$ 200 mil. Não temos como arcar com isso quando há corte de verbas”, afirmou Chiquinho da Mangueira ao site G1 após a reunião desta segunda-feira. Horas depois, após ser alvo de muitas críticas pelas redes sociais, a escola voltou atrás e informou, por meio de nota, que “a possibilidade de não serem realizados os ensaios técnicos (...) ainda será decidida em comum acordo pela Liesa e por todas as escolas, com base na viabilidade financeira de cada agremiação. A Mangueira acatará a decisão do colegiado em realizar ou não o ensaio técnico na Sapucaí, porém não deixará de apresentar sua alegria pelas ruas. Uma alternativa será levar seu ensaio técnico para outro lugar, com custos operacionais viáveis e aberto a toda a nação mangueirense e aos foliões da cidade”.

Os ensaios técnicos reúnem todas as alas da escola, na ordem em que serão apresentadas no desfile oficial, mas sem fantasias nem carros alegóricos. O objetivo inicial era permitir às escolas avaliar o andamento e o canto das alas, para corrigir eventuais defeitos antes da exibição definitiva. Desde a década passada, os ensaios se tornaram opção de lazer bastante procurada por cariocas e turistas, que lotam o sambódromo às sextas, sábados e domingos. Até 2012, cada escola podia fazer dois ensaios técnicos antes do carnaval. A partir de 2013 cada escola passou a fazer um único ensaio. A última escola a se exibir é a campeã do ano anterior - em 2018 os ensaios técnicos seriam finalizados com Portela e Mocidade Independente, portanto.

Outras decisões. Além da polêmica em função do ensaio técnico, a reunião desta segunda-feira definiu que cada uma das 13 escolas da elite receberá da prefeitura R$ 1 milhão, em parcelas a serem pagas de julho a novembro, e que a Empresa de Turismo do Município do Rio (Riotur) tentará conseguir patrocínio particular para repassar mais R$ 500 mil a cada escola. “A Riotur garantiu que já está em negociação com patrocinadores para conseguir os R$ 6,5 milhões de complemento”, afirmou Castanheira. 

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Ainda que esses R$ 500 mil sejam confirmados, o valor oferecido pela prefeitura às escolas para o próximo desfile vai diminuir R$ 500 mil em relação ao carnaval passado, quando foram pagos R$ 2 milhões. 

“Chegamos a uma equação com a prefeitura. Agora as escolas terão de fazer um exercício forte para reverter o atraso que esse impasse causou. Elas vão ter de se reestruturar no limite do razoável. Não vai ser fácil, mas as escolas vão fazer um esforço e vamos fazer um belo espetáculo”, disse o presidente da Liesa.

Para reduzir os gastos, a Liga estuda diminuir o número de carros alegóricos por escola - atualmente cada uma precisa desfilar com pelo menos cinco e no máximo seis alegorias.

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