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Coronel e major do COE são presos em operação no Rio de Janeiro

PMs são acusados de liderar quadrilha que cobrava propina de comerciantes e motoristas; 22 foram detidos e 2 seguem foragidos

Por THAISE CONSTANCIO
Atualização:

Atualizado às 22h18

RIO - Terceiro homem na hierarquia da Polícia Militar, o coronel Alexandre Fontenelle Ribeiro de Oliveira da Polícia Militar foi preso nesta segunda-feira, 15, sob a acusação de liderar uma quadrilha formada por policiais e envolvida em extorsões no bairro de Bangu, na zona oeste do Rio. Ele comandava as tropas de elite da Polícia fluminense, entre elas o Bope. Segundo as investigações do Ministério Público do Rio e da Secretaria da Segurança do Estado, o esquema criminoso funcionava dentro do 14.º Batalhão, em Bangu, e envolveu todos os quadros do quartel, dos oficiais aos praças.  Três pessoas estão foragidas e 22 foram presas, denunciadas pela promotoria por formação de quadrilha armada. Também foram cumpridos 53 mandados de busca e apreensão. As investigações sobre a quadrilha já estavam em curso em agosto de 2013, quando o coronel e o major Carlos Alexandre de Jesus Lucas, também detido nesta segunda, assumiram, respectivamente, os cargos de comandante e subcomandante do Comando de Operações Especiais (COE) da PM, ao qual estão subordinadas as tropas de elite. 

Na casa do major Edson Alexandre Pinto de Góes, coordenador de Operações da polícia do Rio, foram apreendidos R$ 287 mil Foto: Secom/Divulgação

Com o coronel, que foi destituído do cargo e preso em casa, no Leme (zona sul), foram encontrados extratos bancários com valores elevados, incompatíveis com a renda (R$ 17.107 líquidos), a contabilidade da quadrilha, e bilhetes com as cotas dos integrantes. O MP do Rio anunciou que investigará o patrimônio do coronel.  Integrantes da cúpula do 14.º BPM, também foram presos os majores Nilton João dos Prazeres Neto e Edson Alexandre Pinto de Góes, além dos capitães Rodrigo Leitão da Silva e Walter Colchone Netto. Para o Ministério Público, o envolvimento de toda a hierarquia do quartel reflete a “institucionalização da corrupção”.  Máfia. Na casa do major Edson foram apreendidos R$ 287 mil, segundo o MP. O capitão Colchone já havia sido preso em 2013, durante operação contra a máfia de caça-níqueis e estava lotado administrativamente no setor de Inteligência do COE, sob comando do coronel Fontenelle. “Isso nos ajudou a reforçar o vínculo entre eles”, afirmou o subsecretário de Inteligência da Secretaria da Segurança, Fábio Galvão.   Durante as investigações, de 2012 e 2013, foi possível verificar que a quadrilha já agia no 41.º BPM (Irajá, zona norte), onde os oficiais acusados de chefiarem o grupo estavam lotados anteriormente, e manteve o modo de atuação quando houve a transferência para Bangu. O esquema funcionava como uma empresa. Em vez de coibir a circulação de veículos irregulares e a venda de produtos piratas, os praças se aproveitavam da situação ilegal para exigir propinas de mototaxistas a transportadoras de cargas que circulavam em Bangu. Os valores variavam de R$ 10 a R$ 2,6 mil e eram cobrados em periodicidades variadas, diretamente das empresas.  Depois, o dinheiro era repassado para a “administração”, a cúpula do quartel.  Havia dois modelos de arrecadação, de acordo com o promotor Cláudio Caio Costa: a “escravidão”, em que os praças ficavam com a maior parte da arrecadação e a “administração” recebia um porcentual de produtividade. No esquema de “valor fixo”, a quantidade de dinheiro repassada para a cúpula era previamente estabelecida e o excedente, dividido entre os praças. “Havia uma organização empresarial (no quartel), tanto que o nome da operação é ‘Amigos S/A’ porque existia uma presidência (Fontenelle), a diretoria dessa sociedade anônima (os cinco oficiais) e a equipe de vendas, que eram os praças.” Os envolvidos responderão na Justiça Militar a cada uma das concussões (extorsões praticadas por servidores), apuradas às centenas pela promotoria. Responderão ainda na Justiça Comum por formação de quadrilha armada (pena de até 6 anos) e serão investigados por lavagem de dinheiro. O MP pedirá indenização por danos morais à imagem do Rio e da PM.

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