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Dirigente de centro espírita na zona oeste do Rio é assassinado

Corpo de Gilberto Arruda, de 73 anos, foi encontrado amarrado e enforcado, com sinais de espancamento, no Lar de Frei Luiz

Por Danielle Villela e Roberta Pennafort
Atualização:

Atualizado às 14h40

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RIO - Principal médium do Lar de Frei Luiz, maior centro espírita do Rio, Gilberto Ribeiro Arruda, de 74 anos, foi encontrado morto na manhã desta sexta-feira, 19. Tinha as mãos amarradas, mordaça na boca e marcas de tortura e espancamento. Arruda, que fazia cerca de 400 cirurgias espirituais por mês, já operara a apresentadora Xuxa, o tenista Gustavo Kuerten, a cantora Elba Ramalho e o ator Carlos Vereza. 

O corpo estava na casa em que ele morava, no terreno onde fica o centro, em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio. O crime, envolto em mistério, aconteceu em uma semana em que a cidade viveu casos de intolerância religiosa: no domingo, uma menina de 11 anos, vestida com trajes do candomblé, levou uma pedrada atirada por supostos evangélicos; na quinta-feira, o templo Casa do Mago (zona sul) foi atacado a pedradas. 

O presidente do Lar de Frei Luiz, Wilson Pinto, descarta qualquer conexão do assassinato de Arruda com atritos envolvendo seguidores de outras religiões. “Não acredito nisso. Também nunca tivemos casos de violência. Ele não tinha problema com as pessoas, era dócil e tranquilo. Não tenho a menor ideia do que aconteceu. As imagens das câmeras já estão com a polícia. Na entrada (do terreno) não tem anotações (de entrada de pessoas estranhas)”, disse Pinto, que divulgou em nota que “nesses tempos modernos, tudo pode ser imaginado e especulado, sem qualquer elemento concreto”. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios. 

Gilberto Arruda foi encontrado amarrado e enforcado, com sinais de espancamento Foto: FABIO MOTTA/ESTADAO

Sem inimigos. “Eu o conhecia havia mais de 30 anos e trabalhava como seu assistente. O que aconteceu é um mistério. Ele fazia um trabalho muito bonito e não tinha inimigos, só arranjava amigos, pessoas que voltavam depois das cirurgias para agradecer”, diz a médium Sônia Magalhães. Ela afirma que Arruda era caridoso e “vivia para o Lar”. “Para a gente é muito triste. Ninguém entende o que aconteceu, porque nunca soubemos de desavenças com ninguém.” 

Na quinta-feira à noite, a vítima falou a uma plateia de dependentes em recuperação. Segundo o presidente do Lar, a reunião foi tranquila. Ele contou que saiu do local às 21h30 e Arruda teria voltado para casa. 

O médium vivia com a mulher. O casal dormia em quartos separados. Ela contou que, ao acordar, por volta das 8 horas, foi ao quarto do marido e viu o corpo. Ela pediu ajuda a funcionários, e a polícia foi chamada. O corpo de Arruda será enterrado neste sábado no Rio. 

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Hospital espiritual. Gilberto Ribeiro Arruda era médium desde os 6 anos e trabalhava no Lar de Frei Luiz havia mais de 60, incluindo o tratamento de casos graves, como cânceres, males cardíacos e paralisias. Os frequentadores acreditavam que ele incorporava o espírito do suposto médico alemão Frederich Von Stein, que teria trabalhado no socorro a feridos na 2.ª Guerra Mundial. 

O médium era o principal nome da chamada “sala 1”, o “hospital espiritual” para casos graves, que atende muitos desenganados pela Medicina. As cirurgias, não explicadas pela ciência, eram feitas só com o toque da mão do médium no paciente, sem bisturi. Arruda era procurado por pessoas de fora do Estado e do País. Funcionários relataram que os mais abastados chegavam de jato particular. 

Com outros médiuns, Arruda fazia cirurgias espirituais às quartas-feiras e aos domingos - o total de atendidos chegava a 5 mil pessoas aos domingos, quando a frequência é recorde, contou o voluntário Paulo Abrantes. 

O lar. Fundado há 68 anos e sustentado por doações, o Lar Frei Luiz é uma entidade filantrópica nomeada em homenagem a um sacerdote franciscano nascido na Alemanha que dedicou a vida a necessitados brasileiros, sendo considerado milagreiro. Abre todos os dias, na zona rural de Jacarepaguá, e o atendimento é gratuito. Já passaram por lá os compositores Tom Jobim (1927-1994), Milton Nascimento e Neguinho da Beija-flor. 

O terreno tem 12 casas e oferece ainda creche para crianças pobres, cursos sobre doutrina espírita e reuniões de amparo a dependentes químicos. Também abriga 26 idosos.

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