Morro Santa Marta tem primeiro tiroteio após instalação de UPP

Favela da zona sul não havia registrado nenhum confronto com armas de fogo depois que unidade foi inaugurada, em 2008

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Por Carina Bacelar
Atualização:

Atualizada às 18h02

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RIO - A noite desta quinta-feira, 28, marcou o primeiro tiroteio entre policiais militares e traficantes de drogas no Morro Santa Marta, em Botafogo (zona sul), desde a instalação na favela da primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, em 2008. A UPP é, até agora, considerada modelo pelo governo estadual.

Os confrontos entre criminosos e policiais, constantes em comunidades com UPPs, não aconteciam no Santa Marta desde a implantação pioneira do programa de polícia pacificadora. É mais um indicativo de que o projeto enfrenta uma crise inédita nestes sete anos.

De acordo com a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP), policiais militares foram alvo de disparos no Beco do Jabuti. Os agressores fugiram. O caso é investigado pela 10ª Delegacia de Polícia (Botafogo).

No início de março já havia acontecido tumulto entre moradores da favela e PMs da UPP, que lançaram bombas de efeito moral e spray de pimenta. De acordo com moradores, a confusão começou após policiais terem abordado um jovem com violência. Houve queixa formal de lideranças comunitárias contra um grupo de policiais que estariam sendo truculentos com moradores.

A UPP do Santa Marta, em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, foi a primeira a ser inaugurada e é considerada até hoje um 'modelo' para todo o Estado Foto: Governo do Rio de Janeiro/Divulgação

A crise no projeto das UPPs tem se espalhado por favelas que a Secretaria de Segurança chegou a considerar pacificadas. No último dia 8, traficantes do Comando Vermelho (CV) partiram dos morros do Fallet, Fogueteiro (Santa Teresa, no centro) e Turano (Rio Comprido, zona norte) rumo à vizinha comunidade da Coroa,dominada pela facção Amigos dos Amigos (ADA). Quatro pessoas morreram e cinco ficaram feridas. 

As trocas de tiros também vêm sendo constantes nos complexos da Penha e do Alemão (zona norte) e na favela da Rocinha (zona sul). No Complexo da Maré, que deve receber UPPs até o primeiro trimestre do ano que vem, também há confrontos, mesmo com presença do Exército desde abril de 2014. 

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A entrada principal da Santa Marta fica na Rua São Clemente, endereço de prédios de classe média e por algumas escolas tradicionais, como a Alemã Corcovado e o Santo Inácio. Antes de pacificada, a favela era controlada pelo CV e local de confrontos violentos. Com a UPP, passou a receber turistas e programas culturais. Tem 3,9 mil moradores, segundo o Censo de 2010 do IBGE.

O morro começou a ser ocupado pela PM em 20 de novembro de 2008, quando foram fechados os pontos de vendas de drogas. Em 19 de dezembro daquele ano, o Santa Marta recebeu 120 soldados recém-formados em policiamento comunitário, com aulas de relações interpessoais e direitos humanos. 

Futuro. Especialistas se dividem em relação aos danos provocados por esse primeiro tiroteio à imagem da política de pacificação. “Acho que é pontual, porque ocorreu em uma vez só num período longo de tempo. Em qualquer bairro pode acontecer um tiroteio, inclusive em Copacabana. Não vejo como um único tiroteio possa representar o fim de uma política”, disse Michel Misse, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em segurança pública.

Já a socióloga Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes, diz que as UPPs são feitas para “remediar” efeitos desastrosos de uma política de segurança equivocada. “Quando a gente tem como pano de fundo uma política de guerra às drogas fracassada, a gente vai fazer tentativas para remediar o problema”.

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