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‘Não temos como pagar. Vamos cortar nos hospitais e nos gastos de Saúde em geral’

Novo secretário do Rio mira organizações sociais e diz que foram contratados serviços que não pode manter agora

Por Constança Rezende
Atualização:
Novo secretário de Estado de Saúde do Rio tem visitado os hospitais estaduais Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

O médico Luiz Antonio de Souza Teixeira Júnior, que assume no dia 1.º a Secretaria de Estado de Saúde do Rio, critica o fechamento das emergências de hospitais estaduais, que entraram em colapso neste mês por falta de pagamento de funcionários e insumos. Adianta que terá de cortar custos e mira as organizações sociais, que administram desde Unidades de Pronto Atendimento a instituições de excelência, como o Hospital do Cérebro.

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Nesta entrevista ao Estado, Teixeira conta que já tem visitado os hospitais estaduais. Além de leitos vazios, encontrou prédios malcuidados. Médico ortopedista de 42 anos, formado pela Universidade Iguaçu e pai de dois filhos, Teixeira é secretário de Saúde de Nova Iguaçu e substituirá Felipe Peixoto, que decidiu deixar o cargo em meio à pior crise da história da saúde fluminense para se candidatar a prefeito de Niterói.

O colapso na saúde poderia ter sido evitado pela administração?

O que aconteceu é que foram contratados diversos serviços no momento em que o Estado podia pagar, mas quando o Estado começou a ter dificuldades financeiras, diversos serviços poderiam ter sido otimizados. Isso é muito difícil, pois todo mundo tem medo de cortar na saúde. Mas está comprovado que teremos de fazer cortes necessários e não tem outra opção. O que não pode acontecer é interromper o atendimento nas emergências da maneira como aconteceu.

O governo deve R$ 649,9 milhões a organizações sociais (OSs) que administram hospitais estaduais. Como o senhor avalia este modelo de gestão?

A OS é um instrumento de gestão. Um contrato bem feito, bem utilizado, é válido. O problema é que, nesse momento, precisamos rever os valores. Não temos condições de pagar, não tem outra maneira. Não é questão de ser a favor ou contra. Em Nova Iguaçu, eu não tenho OS porque nunca pude pagar. Alguns locais, como institutos especializados, não têm como administrar a não ser por OS. Mas tem de estar dentro do nosso orçamento. É como fazemos nas nossas casas. Só vamos contratar o que tivermos condições de pagar. Mas é claro que é um trabalho de médio a longo prazo.

Onde vai cortar gastos?

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Nos hospitais e em toda a Secretaria Estadual de Saúde. Vamos cortar gastos de forma geral. No aluguel de imóveis, cargos comissionados, contratos terceirizados. Vamos olhar todos os contratos com as organizações sociais, ver o que está contratado para saber o que vamos cortar. Não tem jeito, precisamos economizar.

O governador trocou um político, Felipe Peixoto, por um técnico, o senhor. Isso representa alguma mudança de visão da gestão da pasta?

O Felipe tentou fazer o possível. No momento em que vai perdendo recursos e entra na inadimplência, para renegociar a dívida é muito difícil. Enquanto está pagando em dia, renegociar é um pouco aceitável. Eu, como vim de uma cidade pobre, como já administrei com pouco recurso, a minha característica é otimizar serviço. O governador está me contratando porque eu sei administrar com pouco recurso. Vou ter de me virar, eu sei disso. A maioria das pessoas me desaconselhou a assumir essa pasta. Imagina assumir com R$ 1, 3 bilhão de dívidas? Com todas as emergências paradas? Mas tenho confiança no governador e nos profissionais de saúde, porque eles estão fazendo a diferença nos seus postos de trabalho. Precisamos ter uma mudança.

Qual será a sua primeira medida como secretário?

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Já estou fazendo, trabalhando dia e noite para retomar o funcionamento das emergências. Comecei a trabalhar quando o governador me anunciou, visitei hospitais, almoxarifados. Já participei até de teleconferência com a presidente Dilma. Esses boletins diários informando o que está funcionando em cada hospital foi uma ideia minha. Estamos suprindo a falta de material nos hospitais. Temos de manter isso regularizado para o ano-novo, botar em dia os pagamentos dos funcionários, evitar a paralisação. Estou olhando com lupa cada gasto. Minha primeira ação será uma medida de austeridade para cortar custos. Vou anunciar um pacote de cortes.

O que o senhor observou nestas visitas aos hospitais estaduais nesta última semana?

Temos problemas pontuais, como leitos vazios e a condição predial ruim, como no Hospital Getúlio Vargas (Penha, zona norte do Rio), que estava com portas quebradas e sem maçanetas. Sei que as unidades estavam com leitos vazios porque estavam desabastecidas, não estavam recebendo insumos. Mas me entristece porque é um grande hospital e há pessoas precisando de leitos.

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O que pode ser feito em relação à distribuição desses leitos?

Vamos buscar otimizá-los, com uma regulação entre os hospitais eficientes. Não podemos deixar isso acontecer nunca mais. Principalmente porque é obrigação das OSs, contratualmente, suprir as unidade de medicamentos e materiais. Não pode passar o problema para a secretaria. Mesmo que tenha algum atraso de pagamento, precisa suprir.

O governador lhe pediu algo?

Ele me pediu que o ajudasse a melhorar a situação das emergências e a fazer um grande programa de longo a médio prazo de atenção básica à saúde na região metropolitana. Além de ajudar os municípios, ampliando o Programa de Saúde da Família. Ele tem também uma vontade muito grande, apesar de toda a crise, de fazer o Hospital Geral da Baixada Fluminense.

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