Polícia procura outras vítimas de coronel que estuprou menina de 2 anos

Pedro Chavarry Duarte foi flagrado com o bebê em seu carro por volta das 20h de sábado, por dois PMs, em uma lanchonete

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Por Roberta Pennafort e Fabio Grellet
Atualização:

RIO - A polícia do Rio procura outras vítimas do coronel reformado da PM Pedro Chavarry Duarte, de 62 anos, preso no sábado acusado pelo estupro de uma menina de 2 anos. Em 1993, ele foi investigado por tráfico de crianças, maus tratos e abandono - um bebê de 3 meses que estava sob seus cuidados foi encontrado sozinho e sem alimentação em uma casa em Bangu, zona oeste. A Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) está em contato com o Disque-Denúncia para tentar obter pistas de possíveis casos de abuso praticados por ele.

Nesta segunda, a vizinha Thuanne Pimenta dos Santos, de 23 anos, foi presa por ter entregado a menina ao coronel. A mãe declarou à polícia que estava trabalhando. O pai disse que entregou a filha porque Thuanne a cadastraria para que ganhasse um presente no Natal. No depoimento, Thuanne contou ter ido até o coronel para receber pela faxina que prestara à Caixa Beneficente da Polícia Militar (PM) do Rio, entidade que o militar preside. Ela alegou ter deixado o bebê sozinho com ele porque precisou voltar à casa para buscar um celular esquecido. O aparelho foi apreendido e, segundo a Polícia Civil, continha várias fotos de outras crianças, que podem ter sido oferecidas ao coronel ou a outros pedófilos. Uma irmã de Thuanne também prestou depoimento, na condição de testemunha.

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A prisão temporária de Thuanne foi decisão da juíza Maria Izabel Pena Pieranti, do Plantão Judiciário do Tribunal de Justiça, que determinou também a busca e apreensão de fotografias, computadores, aparelhos de celular e documentos dela e do coronel. Nesta segunda, policiais fizeram buscas na casa de Duarte e na sede da Caixa Beneficente, mas nada encontraram.

Duarte foi flagrado em seu carro por volta das 20h de sábado, por dois PMs, em uma lanchonete do tipo "drive thru", em Ramos, zona norte. O bebê estava com ele, sem roupas e chorando. A polícia fora chamada por uma atendente e uma cliente. Ele tentou fugir. Abordado, informou sua patente superior e ofereceu suborno aos policiais, que fingiram aceitar, mas gravaram a oferta. Duarte disse: "Segunda-feira eu resolvo tudo. Vamos acabar com essa ocorrência, entendeu?" Uma funcionária da lanchonete disse já ter visto o coronel com outras crianças no local. O oficial foi preso por estupro de vulnerável e corrupção ativa.

Em 1993, ainda capitão, Duarte foi condenado em primeira instância pela acusação de ter abusado de uma criança. Acabou absolvido um ano depois. "Ele usa as pessoas que precisam de ajuda, vai aos lugares pobres e se oferece. A mãe deve ter sido enganada por ele. É uma pessoa que veste farda, mas que deveria vestir uniforme de presidiário. É o diabo disfarçado de anjo", afirmou o secretário estadual de Assistência Social, Paulo Melo, que em 1993 presidiu uma CPI na Assembleia Legislativa para apurar a venda de crianças.

A Caixa Beneficente emitiu nota defendendo a "presunção da inocência" de seu presidente. Nota assinada pelo presidente em exercício, Robson de Almeida Paulo, lamentou "o ocorrido" e chamou Duarte de "presidente licenciado". "Que os fatos noticiados pela mídia sejam apurados na instrução criminal, respeitados os princípios constitucionais da presunção da inocência, do devido processo legal e o contraditório", afirma a mensagem.

A origem da entidade remonta a 1903. A Caixa fornece a PMs e familiares assistência jurídica, atendimento médico e assistência funeral. Duarte preside a entidade desde abril de 2010. Antes, passou por batalhões e "adquiriu experiência necessária para se tornar um homem influente e bem visto dentro da corporação", como diz o site da Caixa. É formado em direito e tem passagem pelo gabinete de quatro comandantes-gerais. Foi relações-públicas da PM, membro da mesa diretora da irmandade de Nossa Senhora das Dores da PM e diretor social da Caixa, antes de se tornar presidente.

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