O porta-voz da Polícia Militar do Rio, major Ivan Blaz, e o delegado-titular da 11ª DP (Rocinha), Antônio Ricardo, admitiram nesta segunda, 18, que sabiam que poderia haver confronto entre traficantes na Rocinha no domingo, 17.Blaz afirmou que a Polícia Militar não agiu com mais força para acabar com o confronto porque a intervenção poderia vitimar moradores. Já Ricardo acrescentou que não sabia que o confronto, que durou cinco horas, "seria desta proporção".
A guerra entre traficantes da facção Amigo dos Amigos (ADA), que domina o morro, deixou pelo menos três suspeitos mortos e três moradores feridos. Dois corpos foram encontrados por policiais decapitados e carbonizados, nesta segunda-feira, 18, na comunidade.Pelo menos dez carros cheios de criminosos invadiram a Rocinha para o confronto. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram viaturas da PM paradas, enquanto os bandidos fugiam.
"Nós tínhamos a informação de que haveria uma situação anormal neste fim de semana, mas não que seria desta proporção. Nós agimos dentro do possível. Se tivéssemos entrado com mais força, o confronto poderia atingir moradores", disse o delegado.
Já o porta-voz da PM argumentou escassez de recursos e problemas na legislação como empecilhos para a atuação.
"Diariamente, recebemos inúmeras informações sobre possibilidades de invasão de quadrilhas rivais. Isso torna o nosso trabalho extremamente difícil. Ainda temos criminosos colocados em liberdade por audiências de custódia e a incessante entrada de armas. Colocar a responsabilidade na Polícia Militar, que é uma instituição que vem a duras penas tentando garantir a segurança no Rio, é algo muito pesado. Estamos lidando há alguns meses com a escassez de recursos materiais e humanos. Isso tudo já mostra que a Polícia sozinha não vai resolver essa questão", disse.
Em resposta, as polícias Civil e Militar promoveram uma operação na favela um dia após o confronto. Quatrocentospoliciais participaram da ação, que resultou em dois presos. Um suspeito morto teria sido encontrado com uma pistola. A ação envolveu Unidades do Comando de Operações Especiais (COE), como o Bope e o Batalhão de Choque. As escolas da região, assim como a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a Clínica da Família não abriram.
Questionado também sobre o motivo de as Forças Armadas não terem sido chamadas para ajudar na operação, Blaz afirmou que o melhor era ficar "cada um no seu quadrado" e criticou órgãos federais.
"Eu entendo que cada um dentro do seu quadrado já faria a diferença. Nós temos órgãos federais que são responsáveis pela fiscalização da entrada de materiais no território nacional e isto não está sendo feito. Por que eu não sei, preciso da ajuda da imprensa para questionarmos os responsáveis por isso", disse, em entrevista na Rocinha.
O conflito de domingo começou porque o chefe do tráfico de drogas no morro, Rogério Avelino da Silva, conhecido como Rogério 157, teria se desentendido com o seu antecessor, Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, preso desde 2011.
Nem estaria insatisfeito com a atuação de Rogério 157 e teria tentado expulsar o seu grupo da favela, por meio de ordens dadas de dentro da prisão. A relação pode ter piorado depois da união da ADA com a facção paulista PCC. Já Rogério teria matado aliados de seu antecessor e mandado expulsar Danúbia de Souza Rangel, mulher de Nem, do morro.
Em represália, Nem teria incitado criminosos da ADA de outros morros, como Vila Vintém, Morro dos Macacos e São Carlos a tentar retomar a favela. A tentativa, porém, foi frustrada, e Rogério continua no alto do morro, segundo informações da Polícia. Danúbia, que é foragida e ostenta alto poder aquisitivo nas redes sociais, também ainda está no local. Os dois corpos carbonizados encontrados pela polícia seriam do grupo de Rogério.
O delegado da Rocinha disse que achar os dois é "como procurar uma agulha no palheiro". "A favela é muito grande e as ruas não são organizadas. Não há endereços certos", afirmou.