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PSOL entra com ação contra desembargadora que acusou Marielle de ligação com bandidos

Marília Castro Neves disse que a vereadora foi eleita pelo Comando Vermelho; grupo de advogados rastreia mensagens mentirosas contra Marielle

Por Fabio Grellet
Atualização:
Ato na Maré homenageou a vereadora Marielle Franco Foto: WILTON JUNIOR / ESTADÃO

O PSOL entrou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com representação contra a desembargadora Marília Castro Neves, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Na última sexta-feira, 16, a magistrada acusou a vereadora Marielle Franco (PSOL), assassinada na quarta-feira, 14, de estar“engajada com bandidos”, ter sido “eleita pelo Comando Vermelho” e ter descumprido “'compromissos’ assumidos com seus apoiadores”. O partido e familiares da parlamentar repudiam as acusações. O Estado procurou a desembargadora, que não respondeu.

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“Representamos contra a desembargadora no CNJ e esperamos que o Judiciário mostre que essa mulher é uma exceção nesse Poder, para o bem da democracia”, afirmou o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Neste domingo, ele participou de ato em homenagem à vereadora no complexo de favelas da Maré, na zona norte do Rio, onde Marielle viveu.

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Na sexta-feira, a desembargadora escreveu que “a questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’, ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho (facção criminosa carioca) e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores. Ela, mais do que qualquer outra pessoa ‘longe da favela’ sabe como são cobradas as dívidas pelos grupos entre os quais ela transacionava. Até nós sabemos disso”.

O texto continua: “A verdade é que jamais saberemos ao certo o que determinou a morte da vereadora, mas temos certeza de que seu comportamento, ditado por seu engajamento político, foi determinante para seu trágico fim. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”.

Freixo criticou quem tenta atingir a imagem de Marielle: “Esse imbecis, togados ou não, que tentam de alguma maneira matá-la de novo, não vão conseguir. A Marielle está sofrendo um duplo homicídio. Não basta o covarde que apertou o gatilho, ainda tem covarde de plantão que não está preparado para julgar, mas para prejulgar, dizendo que a Marielle foi casada com bandido, com traficante, que sua filha é isso... é um nível de perversidade que a gente não está disposto a aturar. A Marielle não teve a filha, a Luyara, com um traficante. Mas e se fosse? Isso condena a Marielle a que? O pai da Luyara é um rapaz que trabalha no Luta pela Paz, dentro da favela da Maré. A Marielle foi eleita com 7 mil votos (recebidos) no Jardim Botânico. Depois foi Barra (da Tijuca), Copacabana e Laranjeiras. Como assim dizer que Marielle foi eleita por Comando tal ou Comando tal?”

Após constatar o volume de calúnias de que Marielle passou a ser vítima, um grupo de advogadas começou na última quinta-feira, 15, a rastrear as postagens mentirosas contra a vereadora. Todos os casos, com seus respectivos autores, serão encaminhados à Delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), da Polícia Civil, ou à Justiça para pedido de retratação pública. Até domingo, 18, já haviam sido recebidas mais de 2 mil denúncias. Elas podem ser enviadas para o e-mail contato@ejsadvogadas.com.br.

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Manifestação. Milhares de pessoas participaram de caminhada em homenagem a Marielle no início da tarde deste domingo no complexo de favelas da Maré. Além de moradores, havia políticos como Freixo, o vereador Tarcísio Motta, o deputado estadual Flavio Serafini e o deputado federal Chico Alencar, todos do PSOL, e os deputados federais Benedita da Silva (PT), Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (PSB), todos eleitos pelo Rio. Também havia artistas, como Débora Bloch, Camila Pitanga, Marcelo Adnet e Bruna Linzmeyer.

“Quando a questão é ideológica, eu acho saudável haver debate. Quando uma vereadora é executada, nós temos que esclarecer, porque é um crime contra a democracia”, afirmou Adnet.

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Durante a manifestação, da qual participaram vários familiares de Marielle, mulheres da comunidade discursaram: “Pensam que o lugar de gente preta e pobre é no cemitério ou na cadeia, mas não vamos deixar. Vamos continuar na política”, afirmou uma delas. Até este domingo, o Disque Denúncia já recebeu 23 denúncias envolvendo o assassinato da vereadora.

Na próxima terça-feira, 20, a partir das 19h, haverá um ato ecumênico na Cinelândia (região central) em homenagem adiantada ao sétimo dia da morte de Marielle. O plano do PSOL e de entidades de direitos humanos é que o ato seja repetido nesse horário em outras cidades do País e do mundo. Antes, às 17h, manifestantes vão se reunir ao redor da igreja da Candelária, de onde partirão em passeata rumo à Cinelândia. O ato, convocado pela internet, já havia recebido a adesão virtual de mais de 40 mil pessoas até as 18h de domingo.

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