Sequência de casos de estupro assusta estudantes da UFRRJ

Neste ano, em menos de dois meses de aulas, ocorreram três episódios de abusos, segundo alunas do câmpus de Seropédica

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Por Fabio Grellet
Atualização:
Estudantes relatam abusos no câmpus Seropédica Foto: REPRODUÇÃO

RIO - Uma sequência de casos de estupro assusta as estudantes do câmpus de Seropédica (Região Metropolitana do Rio) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ): neste ano, em menos de dois meses de aulas, ocorreram três episódios de abusos, segundo as estudantes. No mais recente, em março, um aluno teria estuprado uma colega e desfilado pela escola exibindo a calcinha da vítima, segundo relatos postados em redes sociais. Revoltadas, universitárias promoveram na segunda e na terça atos no câmpus para exigir da direção da instituição mais segurança.

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Em nota, a universidade reconheceu os problemas e alegou estar investigando o caso do aluno acusado de estupro. A instituição também admitiu o “inadequado acompanhamento” de um caso de violência ocorrido em 2015 e pediu desculpas.

O câmpus ocupa uma área de 3.200 hectares, onde cerca de 40 vigilantes tentam oferecer segurança aos 10.683 estudantes distribuídos em três turnos de aula. A instituição alega que o Ministério da Educação não contrata agentes há mais de 20 anos.

Uma universitária que diz ter sido vítima de estupro em 2013 criou na semana passada o perfil “Abusos cotidianos - UFRRJ”, que reuniu, em cinco dias, 615 casos de violência contra mulheres na universidade.

“Sofri uma tentativa de estupro no meu prédio de aula. Pedi ajuda à reitoria, e eles me disseram que eu era um caso isolado. Criei a página pra expor a violência que sofri e dar voz a outras mulheres”, conta a estudante, que não quer se identificar.

A maioria dos casos narrados é de mulheres que foram agarradas e beijadas à força, durante festas, mas também há relatos de relações sexuais forçadas sob ameaça ou violência. “Foi 2011. Não era acostumada a ir a festas ou beber. Decidi ir a uma festa e beber. Fiquei um pouco bêbada. Beijei um garoto. Logo depois que estava com ele, piorei muito (até hoje me pergunto se não colocaram algo na bebida). Comentei com minha amiga que estava mal, que queria ir pra casa. Uma garota conhecida nossa e que foi com a gente à festa disse que podia me levar, que ela estava indo também, que o garoto (com quem a amiga estava) a deixaria em casa. Entrei no carro com eles. Mas eles não me levaram pra casa. Levaram-me pra casa deles. Passei muito mal lá. Depois de muito tempo num banho, deitei-me numa cama. Tudo girava. Eu queria ir embora, mas não sabia onde estava. O garoto que beijei veio até mim, subiu na cama e disse pra fazermos sexo. Eu estava bastante inconsciente, sem muita noção das coisas. Logo depois fiquei me perguntando o que estava fazendo, por que não neguei, por que não gritei. Eu odiei aquilo”, narra outra universitária. “Quando já estava na porta de casa, saindo, a garota apenas disse: ‘Morre aqui, hein?’ Me culpei por muito tempo”, conclui.

Segundo a UFRRJ, houve sete casos de abuso sexual nas dependências do câmpus nos últimos cinco anos. A Polícia Civil não tem dados específicos do câmpus - em toda a área abrangida pela 48ª DP (Seropédica) foram registrados 28 casos de estupro em 2015. Em 2016 houve dois registros até fevereiro - não há dados mais atualizados. Segundo as alunas, porém, o número de casos é muito maior, e nem todas as vítimas os registram na polícia.

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O caso que mais repercutiu ocorreu em março. Após o crime, segundo colegas, o autor teria exibido no câmpus a calcinha da vítima. A garota abandonou o curso e voltou à cidade natal. A reportagem não conseguiu contato com ela.

Resposta. Em nota, a UFRRJ “reconhece que existem problemas de segurança no câmpus Seropédica”. “A Administração Central registra um pedido de desculpas em relação a outro caso de violência, ocorrido em 2015, ao inadequado acompanhamento do mesmo”, continua. Sobre o caso mais recente, a instituição diz que “assim que o gabinete da Reitoria tomou conhecimento do fato, o professor Eduardo Mendes Callado, vice-reitor da UFRRJ, prestou todo o apoio necessário à vítima, tendo acompanhado a mesma até a 48ª DP (Seropédica), onde foi feito o registro de ocorrência. O gabinete da Reitoria formou um processo e o encaminhou à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proaes), solicitando a sua imediata apuração. O professor César Augusto Da Ros, pró-reitor de Assuntos Estudantis, determinou a abertura de um processo administrativo e disciplinar, designando uma comissão de servidores (...) incumbidos da apuração dos fatos. Ao término dos trabalhos, a Proaes adotará todas as providências previstas no Regimento Geral”.

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