‘Vi a estrutura da ciclovia desmoronar como se fosse de papel’

Administrador que estava perto do local do acidente testemunhou a queda de três pessoas no mar; família de vítima se desesperou

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Foto do author Marcio Dolzan
Por Constança Rezende e Marcio Dolzan
Atualização:

RIO - Morador de São Conrado, o administrador Guilherme Miranda, de 42 anos, que usava a Ciclovia Tim Maia todos os dias desde a inauguração, estava próximo no momento do acidente e testemunhou a queda de pelo menos três pessoas no mar. “Vi a estrutura desmoronar como se fosse de papel”, relatou.

Segundo o administrador, as vítimas despencaram no mar e os corpos boiaram por cerca de 30 minutos até a chegada dos bombeiros. “Aqui é um lugar que tem ressacas de, no mínimo, o dobro do tamanho dessa. Como o governo entrega uma obra frágil assim?”, questionou, referindo-se à fama das ressacas em São Conrado - não raro as ondas, grandes e fortes, invadem o calçadão da praia.

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O engenheiro Eduardo Marinho de Albuquerque, de 54 anos, corria na ciclovia quando as ondas destruíram o trecho onde ele estava. O capitão médico da Aeronáutica João Ricardo Tinoco, cunhado dele, foi quem reconheceu o corpo.

“Era um dia de lazer, de sol, de contemplar a natureza, e a desgraça surge no caminho de quem só queria o bem. É inadmissível”, desabafou Tinoco na Praia de São Conrado, onde os corpos foram deixados por guarda-vidas do Corpo de Bombeiros, que os recolheram no mar. 

Albuquerque morava em Ipanema e corria de casa até o Leblon para chegar então à ciclovia - um trajeto comum entre as pessoas adeptas da corrida e que vivem na região. A mulher do engenheiro, a médica Eliane Albuquerque, soube do desabamento pela televisão e desconfiou que o marido pudesse estar entre as vítimas. Ao ver o corpo na praia, ela se desesperou e se mostrou indignada. O casal tem um filho de 15 anos. 

Irmão de Eliane, Tinoco estava perto da ciclovia no horário do acidente e recebeu um telefonema da médica para que fosse até a praia. “Minha irmã ficou desconfiada ao saber da queda da ciclovia. Como o marido havia saído para correr, ela associou e pediu para que eu visse os mortos. Infelizmente, reconheci o corpo de meu cunhado”.

Até o início da noite desta quinta-feira, 21, a segunda vítima não fora identificada pelo Corpo de Bombeiros. Há a possibilidade ainda de ter morrido também uma terceira pessoa.

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 Foto: Infográfico/Estadão

Desespero. O aposentado Damião Ribeiro, de 60 anos, pescava na Avenida Niemeyer e foi surpreendido por uma onda maior do que de costume. “Estava pescando quando uma onda enorme veio e suspendeu uma das peças na base da pista. Um casal e uma pessoa que tirava fotos na mureta da pista caíram. Não deu para socorrer.” 

“Por sorte não morri”, disse o manobrista de carros Gerson Magalhães, de 33 anos, que também passeava de bicicleta no momento do acidente. “Estava passando com muito medo porque as ondas estavam fortes e molhavam a pista. Quando vi que elas ficavam ainda maiores, acelerei a bicicleta e passei pelo trecho que desabou segundos antes dele ruir.”

Morador da Favela do Vidigal, na frente da ciclovia, Juan Reis, de 16 anos, tentou alertar duas mulheres que caminhavam a sua frente, uma de cerca de 18 e outra de 40 anos, sobre o perigo das ondas. “Como sou surfista, alertei a senhora que estava na ciclovia para ela se retirar, pois as ondas estavam muito fortes, mas ela não me ouviu e continuou. Quando a onda veio, eu acelerei. Cheguei a me molhar. As duas mulheres caíram”, contou o adolescente.

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