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Com execução decretada pelo tráfico, jovem deixa o Rio

Assustada com ameaças, adolescente de 16 anos não terá acesso à internet, para que não possa ser localizada por criminosos

Por Roberta Pennafort
Atualização:
Em maio de 2016, uma adolescente de 16 anos foi vítima de estupro coletivo no Rio. Há suspeita de que 33 homens estejam envolvidos no crime. Foto: Wilton Junior/Estadão

RIO - Jurada de morte por traficantes do Morro da Barão, na zona oeste do Rio, a adolescente de 16 anos vítima de estupro na favela há 11 dias deixou nesta terça-feira, 31, o Estado do Rio com a família. O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo, contou que ela está muito assustada, “disposta a mudar de vida”, e que não terá celular nem computador com internet, para que não entre em contato com pessoas que possam descobrir seu paradeiro.

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Incluída no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte, a jovem entrou em pânico ao saber da ira dos criminosos do morro, que decretaram sua execução. Isso porque a divulgação do crime, ocorrido depois de ela participar do baile funk da favela, na madrugada do dia 21, chamou a atenção da polícia para o bando.

A adolescente declarou, no primeiro depoimento à polícia, que procurara o “dono do tráfico” para reclamar que seu celular havia sido roubado e contar que havia sido estuprada. A exposição dos criminosos, que passaram a ser procurados, motivou a sentença de morte.

“Fiquei estupefato com a maturidade e a tranquilidade dela. Ela quis entrar sozinha na sala para falar comigo, e não com a avó. É inteligente, articulada e madura. Mas está assustada, recebeu ameaças de traficantes e até de gente de fora do Estado. Estava com pressa de ir embora do Rio”, disse o secretário, que nesta segunda-feira, 30, esteve com a vítima por uma hora. “Não perguntei sobre a vida sexual dela. Fazer sexo com menor é crime, divulgar imagem dela sendo bolinada é crime.”

A família morava num condomínio de classe média na Taquara, zona oeste, havia cerca de três anos. O prédio fica a 6 km do Morro da Barão, que a adolescente frequentava não só em noites e madrugadas de baile funk. Ela convivia com pessoas ligadas ao tráfico, a quem já conhecia: antes de se mudar para Jacarepaguá, a família viveu em Honório Gurgel, zona norte, perto do Morro Jorge Turco, cujo comércio de drogas era dominado pelo mesmo bando que hoje está no Barão.

O “chefe” local é Sergio Luiz da Silva Júnior, o Da Russa, gerente de Luiz Claudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Da Russa é um dos seis acusados do crime e está foragido. Marreta é um dos líderes da facção criminosa Comando Vermelho (CV).

A vida escolar da garota foi atrapalhada pela gravidez precoce. Ela já não estuda. Evangélico, o pai tentava mantê-la em casa, mas ela fugia.

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“É uma menina que se criou sozinha. O pai prendia demais, botava de castigo, mas não adiantava. A filha fugia de casa, e um dia, apareceu grávida. Ela se destaca na comunidade, é bonita, e aquele passou a ser o mundo dela. Só que ao ser ameaçada, até mesmo de ser queimada viva, entrou em pânico”, descreveu um funcionário do Estado que presenciou relatos da vítima.

Ela agora se comprometeu a não falar com pessoas do morro e a não dar entrevistas. Os pais receberão suporte financeiro por dois anos, tempo que dura o programa de proteção.

Presidente do inquérito, a delegada Cristina Bento voltou a interrogar nesta terça-feira os acusados Raí de Souza e Lucas Perdomo Duarte dos Santos. O teor não foi divulgado. Ainda há quatro foragidos, entre eles Da Russa

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