Lizbeth Batista
05 de setembro de 2011 | 16h45
Brizola cercado por adeptos da campanha da Legalidade Foto: Arquivo/AE - Setembro de 1961
Após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto 1961, o país viveu dias de tensão. A saída de Jânio da Presidência da República se deu enquanto seu vice, João Goulart, estava em viagem à China.
A decisão de Jânio trouxe instabilidade ao país, gerando disputa entre diferentes esferas políticas. Setores da sociedade e partidos políticos dividiram-se.
De um lado estavam os que defendiam a manutenção da ordem jurídica, que previa a posse de João Goulart. Na Campanha pela Legalidade tiveram sua maior expressão e em Leonel Brizola sua maior representação política.Do outro lado, estavam os que pediam a convocação de novas eleições, sendo contrários à posse de Jango. Estes contavam com o apoio das Forças Armadas, temerosas que um governo encabeçado por Goulart significasse a implantação de um governo comunista no Brasil. O político Carlos Lacerda, líder da UDN e antigo rival dos getulistas, era a liderança mais inflamada deste grupo.
No Rio Grande do Sul, o então governador Leonel Brizola, cunhado de Jango, iniciou o movimento conhecido como Campanha da Legalidade. A campanha apoiava a subida de Jango à Presidência sem qualquer limitação ou alteração jurídica no competia à governabilidade do cargo.
O movimento, liderado por Brizola, passou a utilizar a rede de rádios do estado buscando apoio à sua causa. Brizola, em boletins diários, conclamava o povo a ir para as ruas a fim de apoiar o retorno seguro e a posse de Goulart. E pedia que a população se postasse contra o golpe da junta militar, afirmando ser este o plano das Forças Armadas.
A Rede Radiofônica da Legalidade funcionava nos porões do Palácio Piratini, sede do Governo rio-grandense. Com transmissões diárias ininterruptas, suas ondas foram retransmitidas por 104 emissoras em todo país.
Durante os doze dias da crise, Porto Alegre viu-se a beira de uma guerra civil. Tropas da Brigada Militar foram colocadas de prontidão para defender o Palácio Piratini, QG do movimento pela Legalidade.
Temendo um ataque das Forças Armadas, Brizola ordenaque barricadas fossem erguidas para proteger o Palácio Piratini
Foto: Arquivo/AE - 28/08/1961
O comandante do III Exército, chefe das forças militares do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o general Machado Lopes, temendo uma sangrenta repressão as massas que apoiavam o governador Leonel Brizola opta por alinhar-se ao movimento. Seu ato provou uma cisão nas Forças Armadas.
Contando com o apoio de grande parte da sociedade civil, o Movimento pela Legalidade cresceu no Sul do país. Naqueles dias de indefinição, foi força representativa do desejo político de parte significativa da sociedade brasileira.
Leia, trecho da matéria publicada no Estado, em 30/08/1961 :
O Exercito e a emissora
BRASÍLIA, 29 — Até agora as Forças Armadas não tomaram nenhuma medida para silenciar a emissora que,em poder do governador Brizola, divulga marchas marciais e boletins "subversivos". sob a denominação de "A Voz da Legalidade ', porque não consideram necessária. Esta explicação teria sido dada hoje pelo general Ernesto Geisel, chefe do Gabinete Militar, a auxiliares do presidente da República. As Forças Armadas, ainda segundo o general, sabem que a emissora é era "elemento perturbador da ordem", mas não ignoram que qualquer medida para silenciá-la não seria tomada sem tiroteios e mortes, o que agravaria a situação desnecessariamente, pelo menos no momento. O fato de continuar a emissora no ar, porém, não significa, em absoluto, a conivência do III Exército para com o governador gaúcho. A nota hoje divulgada : pelo comandante daquela unidade foi previamente aprovada pelo Gabinete Militar.
Pesquisa e texto: Lizbeth Batista
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