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Memória, preservação e acervos

De fumadores de maconha à juventude transviada

Revista do Brasil 14, fevereiro de 1917

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Por Carlos Eduardo Entini , Edmundo Leite e Liz Batista
Atualização:
(Clique na imagem para ler a íntegra) Foto: Estadão

A publicação de "Os Fumadores de maconha no Brasil" em 1917 mostra como o debate e a visão sobre a substância e seu uso tiveram diversos significados com o passar dos tempos. A resenha da Revista do Brasil começa atribuindo o consumo a uma herança da escravidão e descreve alguns nomes das "sumidades floridas": fumo d'Angola, maconha, diamba, liamba ou riamba. Após destacar que é na região Norte do País onde o "vício" está mais espalhado, diz que "os índios amansados aprenderam a usar da maconha, entregando-se com paixão a esse vício". "Fumam também os mestiços, e é nas camadas mais baixas que predomina o seu uso, pouco ou quasi não conhecido na parte mais educada e civilisada da sociedade brasileira."

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O texto não fala que tipo de droga recreativa a elite brasileira usava naqueles tempos. Mas algum tempo depois, é possível inferir, a partir do relato do médico, expedicionário e escritor Gastão Cruls, que nos anos 1930 essa droga é a cocaína. Em seu relato sobre a maconha na floresta amazônica, ele a descreve como "a cocaína do caboclo", numa clara alusão de que o tipo de droga consumida servia também como distinção de classe.

Em 1958, o Estadão publicou dois artigos de Joaquim Douglas intitulado "Dicionário da Maconha". Neles, o autor tentou descolar a imagem da substância à questão racial e social. Douglas rebateu o argumento mostrando a trajetória da maconha desde a antiguidade, passando pela Ásia, Oriente Médio e África.

Quando a maconha ganha definitivamente as áreas urbanas, encontra outro significado e outro tipo de "fumador", a "juventude transviada". Não só a droga é considerada um problema. O comportamento associado a ela também é visto como algo a ser combatido através da repressão. E até policiamento ostensivo em festas familiares é previsto nas ações policiais. O próprio nome da divisão destacada para o problema demonstra o novo significado da droga: Delegacia de Repressão à Vadiagem.

Além de despertar o interesse dos órgãos de segurança, o uso da maconha passa a ser objeto de estudo da academia e ganha um novo nome, 'Canabismo'. É o que mostra a reportagem de 1958 quando a droga foi tema de reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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O Estado de S. Paulo - 13/4/1958

 Foto: Estadão

O Estado de S. Paulo - 20/4/1958

 Foto: Estadão

O Estado de S. Paulo - 10/7/1958

 Foto: Estadão

(clique na imagem para ler a íntegra)

 O Estado de S. Paulo - 20/8/1958

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 Foto: Estadão

Leia também:# Maconha: de uso medicinal a caso de polícia# Applicação de cocaína em extração dentária # A proibição do absinto na França em 1911# Uma curiosa revista argentina

Pesquisa e Texto: Edmundo Leite e Carlos Eduardo EntiniSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo | facebook/arquivoestadao | Instagram

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