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Memória, preservação e acervos

Fada Verde tinha dias contados na França, em 1911

Sexta-feira, 16 de junho de 1911

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Por Leticia Bragaglia
Atualização:
 Foto: Estadão

A edição de 16 de junho de 1911 trazia a notícia de que uma comissão no senado francês acabava de proibir a venda e fabricação de absinto.

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O alcoolismo já era um sério problema de saúde pública no século XIX e início do XX , quando o absinto foi introduzido na França.

Ícone da Belle Epoque, conhecida como fada verde, a bebida foi criada em 1792, na Suíça. E chegou  a ser consumida com 85% de teor de etílico.

Buscando uma fórmula medicinal para problemas digestivos, o médico francês, Pierre Ordinaire desenvolveu um composto utilizando a planta losna (Artemisia absinthium). Criou o absinto quando resolveu juntar álcool à fórmula. A mistura amarga também leva anis e ervas como funcho, e em alguns casos, erva-doce.

O elixir do Dr. Ordinaire logo chegou à França. Febre nos cafés parisienses,foiconsumido avidamente por trabalhadores e por boêmios. E transformou-se na bebida oficial dos românticos e parte da cultura de movimentos artísticos do final do séculoXIX até início do XX.

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Muitos artistas do período experimentavam com absinto. Acreditavam que os poderes alucinógenos da bebidaaguçavam suas percepções artísticas , inspirando-os à grandes criações.

 Foto: Estadão

O bebedor de absinto, de Viktor Oliva (1861-1928)

A cultura do absinto imperou na França Fin de siècle.Bares e cafés lotavam de clientes nahora verde (entre às 17:00 e 19:00), apelido dado ao  horário em que mais se consumia o drink.

Escritores como Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Cherles Baudelaire, Paul Verlain, Arthur Rimbaud consumiam frequentemente a bebida. Entre os pintores que prestaram homenagem à fada madrinha verde estão Eduard Manet, Henri de Toulouse-Lautrec, Jean-François Raffaelli, Vincent Van Gogh e Pablo Picasso.

O elevado consumo de absinto preocupava a comunidade médica francesa.Estudos realizados no período buscavam  diferenciar o dependente de absinto de pessoas com problemas de alcoolismo. Um termo próprio para o mal foi cunhado, absintismo. Diziam- sem comprovação efetiva até hoje- que o dependente de absinto era mais propenso a quadros de alucinação. E que, quando neste estado de delírio, eram mais inclinados a atos de extrema violência.

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Crônicas médicas do período indicavam que o abuso da substância poderia levar a alterações no sono, convulsões, problemas gastrointestinais, alucinações visuais e auditivas. Afirmavam que elevava os riscos de desenvolvimento de doenças psíquicas, seria responsável por elevado índice de suicídios.

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A ligação do consumo da substância a acessos de loucura e crimes violentos fez médicos sanitaristas e psiquiatras ganharem o apoio da sociedade.

Casos emblemáticos envolveram artistas do período. Contam que, embriagado pelo líquido esmeralda,  o poeta Paul Verlaine atirou no seu amante Arthur Rimbaud.E que foi também sob o efeito da fada verdeque Van Gogh agrediu Gaugin e decepou sua orelha.

O mais assustador dos casos ligado à bebida correu em 1905. O operário Jean Lanfray, após consumir ,elevada dose,  atirou com sua espingarda na família, matando esposa e dois filhos. O crime chocou a Suíça, que definiu por meio de  um plebiscito proibir o uso da bebida, em 1908.

No começo do século XXa  bebida esverdeada foi proibida em parte da Europa. Seguiu liberada em alguns países como Portugal, Inglaterra e Espanha.

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Os efeitos alucinógenos da bebida nunca foram comprovados e hoje seu consumo (com teor álcoolico reduzido) é liberado em muitos países, inclusive no Brasil.

Pesquisa e Texto: Lizbeth BatistaSiga o Arquivo Estadão: twitter@estadaoarquivo e facebook/arquivoestadao

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