Lizbeth Batista
31 de maio de 2011 | 09h00
Quarta-feira, 31 de maio de 1911
O controverso Código Florestal em discussão no Congresso aqueceu o debate sobre as posições políticas diante do problema do desmatamento.
Mudanças climáticas já eram assunto no Estadão há um século. A nota reproduzida abaixo mostra que a preocupação com desmatamento das terras brasileiras não é recente. Assim como não são recentes as dificuldades para se estabelecer políticas eficazes contra essa prática.
A edição de 31 de maio de 1911 trazia um ofício de Gabriel de Piza, ministro brasileiro em Paris, ao ministro da agricultura Pedro Manuel de Toledo.
O texto da correspondência, após contar sobre sua viagem a algumas regiões africanas e para o Oriente, relaciona a devastação das matas a algumas mudanças climáticas.
“A experiência pessoal, por mim adquirida na minha referida viagem ao Oriente, deu-me a visão clara do triste futuro climatológico, se continuarmos a derrubar mattas, sem replantar árvores essenciaes à vida do homem civilizado. ”(…)
O ministro Piza afirma ter percebido, na sua última passagem pelo Brasil,“a transformação do clima de S.Paulo até o Ceará”. E atenta para a dificuldade em se reverter em área verde uma região desmatada, “não é em poucos annos que poderemos reconstruir o que foi destruído em séculos. E’, entretanto, urgente meditar profundamente sobre o assumpto, que merece a nossa continua e vigilante attenção e agir resolutamente.(…)”
O ofício termina lembrando a situação ambiental da Tunísia. Utiliza o país como exemplo, apontando o problema e a solução. Fala da destruição da mata nativa no norte da África, e elogia as políticas de reflorestamento estabelecidas pela França no território.
A divulgação do ofício levou o ministro da agricultura a pronunciar-se.
Respondendo à imprensa no Rio, o ministro da agricultura falou sobre as ações empreendidas pelo governo para conter os desmatamentos.
Falou sobre a divulgação do ensino agronômico, através da ação de professores, conferências e publicações sobre a conservação das matas. Promoção da festa das árvores. A criação da seção agronômica do Jardim Botânico do Rio, dedicada a investigar meios de “melhorar, conservar e desenvolver o cultivo das plantas florestaes e de publicar instrucções praticas sobre o plantio das árvores e suas relações com a climatologia e regimen das águas.”
Entre as dificuldades para assegurar o cumprimento das disposições dos códigos existentes, o ministro apontou a organização de serviços de policiamento. Esses serviços significavam um problema para os orçamentos dos Estados.
O ministro se comprometeu a levar ao Congresso Nacional um estudo aprofundado da situação das matas, até o final de 1911. E reconheceu que, para o estabelecimento de uma política ambiental para o país, o estudo deverá analisar proposições que levem em conta a instância constitucional, jurídica, econômica e administrativa do país.
Pesquisa e Texto: Lizbeth Batista
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