Estadão
07 de março de 2011 | 03h24
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Com muito luxo, e pouca inovação, a Vila Isabel fez um desfile correto para tratar do difícil tema do enredo – cabelos. E eles apareceram em profusão, em 3.800 perucas nas cabeças dos componentes. Gisele Bündchen, garota propaganda da marca de xampu que patrocinou a escola, encerrou a apresentação, interpretando a Vênus Romana. Usava um microvestido que teimava em subir – e ela em puxá-lo para baixo.
A vila desfilou coalhada de beldades – Sabrina Sato, à frente da bateria, Tathiana Pagung, ex-rainha de bateria da Mocidade, Quitéria Chagas, ex-Império Serrano, e as atrizes Bárbara Borges e Júlia Almeida. “Desfilei em São Paulo ontem de manhã. Dormi só quatro horas. Mas o que tem de estar preparado é o coração. E eu já estou animada”, afirmou Sabrina, que desfilou como rainha medieval.
A paulista interagiu o tempo todo com a bateria – ela sambou entre os ritmistas e ainda foi erguida por eles. Mestre Átila também fez muitas paradinhas durante a apresentação.
Os cabelos do enredo patrocinado apareceram emaranhados na cabeça de Shiva, trançados, como na cabeça dos nativos do povo hopi, do Arizona, crespos nas bruxas, louros e longos numa Rapunzel mirim, que abriu o desfile. Janaína Guerra, que interpretou Lady Godiva, falou sobre a difícil preparação para receber tantas madeixas. “Um mês atrás, recebi um aplique de 350 gramas de cabelo. Levou cinco horas. Hoje, recebi mais 400 gramas. Fiquei mais quatro horas. Mas vale a pena. Ficou perfeito”, contou.
Antes da apresentação da escola, a cantora Mart’nália torcia por muita chuva. “É para igualar as chances. A Portela, a União da Ilha e a Grande Rio se deram mal por causa do fogo. É um campeonato sem competidores. Um temporal pelo menos iria zerar a disputa”. No lugar da tempestade, veio uma chuva fina, que não tirou o brilho do primeiro desfile da carnavalesca Rosa Magalhães à frente da Vila. (Clarisse Thomé)
Confira o samba-enredo da Vila Isabel:
Mitos e histórias entrelaçadas pelos fios de cabelo
Respeite a coroa em meu pavilhão
A desfilar na avenida
Carrega os fios de Isabel, da liberdade
É minha vida, é a Vila!
O brilho, a raiz, a sedução
O universo em sua formação
Nas longas madeixas de Shiva
Dos ritos aos astros
Os mitos que enlaçam
Antigas tradições
Festejando novas gerações
Sansão, forte, se apaixonou
O corte enfim revelou Dalila
Trança a paixão, o nobre fiel
Às lágrimas viu Rapunzel mais linda
A força e o amor cobriram o corpo
Vencendo as rédeas da exploração
Perucas no Egito, poder divinal
No luxo da França, adornam o Rei Sol
Aqui, entrelaçado em ouro
Vi florir a alforria, sonhos colorir
Em tantas formas buscar perfeição
Para os poetas a inspiração, afinal…
Charme e tom sensual
Moldaram a beleza do meu carnaval
Modéstia à parte, amigo, sou da Vila
Quem é bamba nem sequer vacila
Envolvido entre cabelos, me sinto arrepiar
Feitiço refletindo no olhar
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