-- Está tudo nos autos, não? Por que a substituição? -- Conflito de interesses! -- Insustentável. Não procede, afinal nós magistrados -- Ah!
Em seguida, o advogado arremata
-- Os Srs. ainda não entenderam? -- Neste recinto tente usar a palavra apropriada: Meritíssimo? Reagiu tímido o Juiz calvo. -- Sim, mas é claro, Me re tí ssi ssi mo! A ironia com o superlativo errado deslizava fácil na boca. -- O Sr. defensor poderia escolher um de nós por favor, não temos o dia todo. -- Precisamos de tempo, quer não pressionar? (O réu cochicha algo no ouvido do advogado, enquanto limpa da boca pedaços da bomba de creme) -- Dois dias. Faz dois dias que estamos à vossa disposição! Protesta o decano da Corte, recostado na parede áspera. -- Pode moderar o tom, me ri tí ssi mo? Meu cliente tem direitos garantidos. O defensor avança para bem perto do árbitro acuado. Balança a constituição recém editada na gráfica do Senado Federal e complementa com positividade: -- Levaremos o tempo que for necessário!
O juiz de humor colérico fez que iria levantar e desistiu depois de bufar para o colega ao lado.
-- Por que nos submetemos a isso? O mundo está de ponta-cabeça? -- As leis, eles controlam as leis. -- Os direitos? Sem deveres? -- Devíamos ter percebido antes, cochichou o árbitro calvo. Reeditam uma constituição ao ano. Agora é tarde!
Enquanto isso, o advogado puxa seu cliente de lado
-- Escolha logo um ou vamos embora daqui e fazemos isso lá do gabinete. Depois vão fofocar que ficaram trancados.
--- Só exercemos nossos legítimos direitos. Eles que mofem!
*
Um novo juiz foi nomeado e imediatamente escolhido como relator. O resultado da anulação saiu antes do final do dia. O novíssimo resultado foi publicado no Diário Oficial no primeiro dia útil da semana seguinte.
Para alívio geral em Brasília, a seriedade era só ameaça. Mais uma vez, tudo de volta aos trilhos.