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Crônica, política e derivações

Árvores

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:
 Foto: Estadão

Nada nem ninguém me convence de que não está em curso um movimento oculto, silencioso, ardiloso, e, em franca expansão. Encontra apoio e expressão nos subsolos das grandes cidades. Aos olhos do senso comum, qualquer epidemia suicida é inapreensível. Um conluio de raízes então, inconcebível. E nenhuma delas era a árvore do conhecimento original.

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Dados publicados na revista Science em 2013 estimam que só a Amazônia ainda contenha 390 bilhões delas (http://www.sciencemag.org/content/342/6156/1243092.abstract?sid=f7b609f7-5f22-4e50-9aac-0d332efae19b). Porém estes organismos representam não só a origem do saber no desafio do Adão voluntarioso, como seus frutos já renderam poesia, literatura e arte. Para além do caule da madeira, árvores foram usadas como modelos por cientistas. A partir delas, Lineu e Boissier de Sauvages, classificaram plantas e doenças, respectivamente. Genealogia, organogramas e complexos esquemas de decisão também se inspiraram nelas.

Eis que um dos símbolos da vida, vai agora sendo escoado à uma razão sem sentido, o desenvolvimento, do descuido ao desmatamento. Desde então o clima entre nós e elas vem mudando. Podem confessar, já não é mais mesma coisa. Perto de uma delas, andando ou dirigindo, suspeitas, medo, algum pânico. Não foi só porque ainda ontem uma delas tirou a vida do ocupante de um táxi. Nem pela floresta de 300 troncos arrancados das ruas e parques por tempestades instantâneas. Também não se trata de atribuir características mágicas, exaltar poderes anímicos dos vegetais, nem de repetir a irritante mania dos documentaristas de antropomorfizar a natureza. É normal que qualquer onda de paixão - amorosa ou destrutiva - nos empurre à perplexidade. Mas, quando se trata da última causa remanescente decente, a preservação do bioma, a auto imolação coletiva destes seres com 2 ou mais séculos, comovem muito mais.

As árvores conspiram de noite, e ninguém pode confirmar se a auto imolação é crise de melancolia ou um movimento contra a racionalização da estupidez.

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