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Crônica, política e derivações

Austeridade

Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

 

  Foto: Estadão

Austeridade, palavra horripilante. Pensem bem. Do jeito que vem sendo tratada, com a meteórica familiaridade com que ela agora varre a zona do euro, poder-se-ia pensar que se trata de palavrão, desordem psíquica minor ou até um pacote de maldades embrulhado para presente em dias de estiagem latino americana. Somos forçados a lançar as 3 concepções analógicas de austeridade para tentar compreender como um termo, que há pouco tinha como significado rigor, integro e ascetismo tenha tomado caminhos tão inusitados. Na vertente ascetismo é que ela assume o caráter que os neófitos partidos europeus -- admiradores de Chávez e dos regimes latino americanos --  tentam imprimir ao termo. Nesta modalidade, mortificação, flagelo e penitência, são algumas das implicações verbais do termo.

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Claro que na vertente rigor, ela poderia tender à severidade e daí para virga férrea, mordaça, despotismo, arbitrariedade, usurpação, dobrar a cerviz à escravidão e violência. Mas entre o catoniano e o reizete, entre o sultão e o missongo há, vale dizer, deveria haver, outros espaços de significados para a palavra. É ai que entra a outra acepção da austeridade, a probidade. Nela encontramos os elementos que fizeram dela o significado com o qual, até ontem, concebíamos sob nosso torturado senso comum: compostura, homo antiqua fide, barbas honradas, veracidade, pundonor, têmpera, equidade e consciência.

Descobrimos enfim que a trajetória da virtude à vicissitude, que parecia longa e interminável, não é. O tempo é que dita o ritmo dos signos da linguagem e com ele a própria vida. As palavras enfim valem menos ou mais? Talvez valham apenas outra coisa. Em meio à mutação vertiginosa, significados pulam de um galho para outro.

Os políticos podem estar se defendendo dos hiatos proposicionais que criam, de suas repetições inócuas, mas sobretudo da falência de sua única função: impedir a privatização do bem comum.

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