Paulo Rosenbaum
17 de fevereiro de 2014 | 14h49
Soldadinhos subsidiados estão a postos para a net conferência. Atentos, todos puderam ouvir a preleção da chefia: pessoal, destruam apenas “objetos simbólicos do poder econômico”
No dia marcado todos apareceram na sede. Até que eles estavam quietos quando o holerite vivo começou a circular. Afinal, em tempos de capitalismo selvagem deve haver algum grau de acomodação (eles preferem chamar de adaptação provisória) das idiossincrasias contra o dinheiro.
Bandeja esvaziada, abriu-se espaço para perguntas da plateia. Superado o constrangimento inicial, lá pelas tantas, alguém levantou a mão e o líder do partido, distribuidor de cachês e guia ideológico o atendeu sem muito entusiasmo
— Pode perguntar.
— Tem extra?
— Extra?
— É tio, hora extra.
— Não, nem carteira assinada!
— Mas e aquele papo de “produtividade”?
— Reavaliamos a proposta. Isso ai não vai ser possível.
— Mas não é justo. Eu visto a camisa. Na última desci o cassete, meti porrada e arregacei o dobro da moçada. Viu o filminho? E agora vocês vêm com essa merreca? Não, não, não tem condição.
— Filho, usamos doações e verba partidária, por enquanto não vai dar para pagar bônus de produtividade.
— Ô tio, ai complica! Não dá para bolar outra coisa?
— Vamos pensar, vamos pensar…
(Em sua cabeça o slogan já estava formulado: “índice de destruição patrimonial”. Ele achava que era bom nisso)
— Sua sugestão irá para a plenária.
–Dá esse força aí! Fala lá que é investimento, avisa que tem que colocar a mão no bolso se eles querem ver o circo pegar fogo.
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