Paulo Rosenbaum
27 de abril de 2014 | 14h33
Amanhã, segunda dia 28,
Dia em homenagem às vítimas do Holocausto – ????????
(Yom HaShoah)
Certeza nunca. Nunca mais.
Tivera convicções, mas se convencer não fazia parte de sua personalidade. Para ele, personalidade não passava de uma constância artificial, o simulacro de unidade que inventamos para nós mesmos.
No meio da estação realizou, não havia escapatória. Nem ficar, nem fugir. Diante da porta aberta dos vagões, sua vida se recusou a passear pelos olhos. Nenhum flash back. Numa multidão espremida com a esperança de sobreviver, perturbou-se em ser só mais um. Até a morte merecia uma marca individual. Número tatuado na pele? Removido do mundo com uma pá.
Retrocedeu meio passo e virou-se ao oficial. No bolso, um lápis bem apontado esperava a oportunidade. Pediu um papel.
Desconfiado, trejeitos lentos e olhando em volta, o soldado cedeu.
O poeta escreveu rápido, empurrado sob o som dos alto falantes:
– Entrem nos vagões Vamos partir, vamos partir, vamos partir
– As malas ficam.
—Tudo fica.
Subindo, empurrou o poema com o pé, que despencou no vão.
Assim que o trem zarpou, o SS, intrigado, ordenou que se recolhesse o papel dos trilhos:
“Fomos partidos, voltaremos inteiros”
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