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Crônica, política e derivações

Cordas tensas

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:
 Foto: Estadão

Alguém há de apagar a luz do Universo? A matéria escura pode já fazer isso. Mas o fim de tudo, o afastamento elástico das galáxias, a escatologia universal, o bumerangue que entortará o cosmos, talvez esteja a uma distância ainda indisponível. Enxergamos estrelas inexistentes e não alcançamos as que acabam de nascer. Já aqui, no nosso estreito varejo, a velocidade das informações mudou o curso de quase tudo. Nem capitalismo, nem democracia ou qualquer outro regime poderão ser os mesmos com os Wi-Fis acionados. O tempo real com o qual as informações circulavam pelo mundo nos abandonaram a uma dinâmica totalmente desconhecida. Estamos no rastro de mudanças, pressentidas, mas pouco analisáveis. As informações, unidades que constroem nossas opiniões, estão na flutuação de um espaço sem dono. Isso significa multidões de donos, avalanches de terras de ninguém.

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Com a fuga veloz das notícias e versões, a verdade opera sob o registro da mais alta relatividade. Do leitor ao analista, do pesquisador ao consumidor, do funcionário ao proprietário fica-se sempre a espera da comprovação cabal, aquela que nunca vem. O que é bom? O que é real? Quem corrompe e quem está omitindo o que todos querem saber? Quem divulga meias verdades?

Neste interregno complexo, o boato pode soprar em velocidade de tufão e qualquer apuração será varrida pelos fatos. Construídos ou reais. A realidade passa a não poder ser mais verificável. Cortina de ferro ou de fumaça, o que o Estado está fazendo do Estado?  Sistemática, dogmática, resoluta e doutrinaria, a violação da República transformou-se em programa de governo. Diante disso, o que significa a ação penal, aquela mensalidade aos parlamentares, quando a lógica do esquema passa a ser uma inimaginável estratégia com inserções multinacionais?

Qual País admitiria inerme, prostrado e cabisbaixo tamanha malversação de recursos? Quando a cegueira sufragista passa e a convicção da causa perdura, não há mais cúmplices, há coautoria. Há quem reclame de quem denuncie, mas a organização criminosa e as aulas de crime, deixam de ser instantaneamente metáforas quando batem às portas.  E para bem além do óleo, que arrastou a economia ao mal humor, uma crise na cultura. Que agora força sua baixíssima criatividade em clima de ideologia aplicada. Renasce a arte subsidiada a serviço da política, do cinema, do engajamento partidário. O poder, que obteve a soldo, a neutralidade tácita das academias, do legislativo e dos demais poderes, agora encampa os artistas e suas produções.

Como se tudo que importasse para nossas vidas estivesse retido num templo que não deveria mais nos interessar. A escatologia universal terá que esperar sua vez até que dissipemos essa nuvem sem graça, que não sai de cima nem chove. Por enquanto, só cordas tensas e trovões esparsos!

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