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Crônica, política e derivações

Dia do Levante no Gueto

Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

Neste dia 19 de abril, em 1943, iniciava-se a Revolta do Gueto de Varsóvia. A população judaica do gueto submetida às piores condições, as mais subumanas e degradantes de existência. Sob imagináveis sofrimentos e completo abandono, a população civil insurgiu-se heroicamente contra o poderoso e covarde inimigo nazista, num ato de pura insubmissão. A revolta terminou só no dia 16 de maio com 13.000 judeus mortos e o gueto destruído com o restante da população enviada para o campo de concentração e posterior extermínio em Treblinka. Foi o maior levante judaico da Segunda Guerra Mundial. Perdemos parte da nossa família na revolta, que morava nas cercanias do levante, o que só nos enche de orgulho pela perseverança e capacidade de perdurar, mesmo em meio as barbáries e adversidades. Estivemos lá, continuaremos aqui. Aqui, dois poemas homenagens "Seis Milhões" e "Diário de noite na rua New Olipik" - Do livro "A Pele Que Nos Divide". Quixote-Do, 2018.

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SEIS MILHO?ES I Os seis esta?o bem aqui. posso senti-los sob meus pés, regulares, como todas as descidas rítmicos como gelos. intensos como florestas No declive de gênero fantasiados de corporac?o?es nos trens improvisados, como maquinas de extrac?a?o enquanto metrificavam judeus, a IBM e a Krupp acendiam os fornos da despensa Do trem, digo na?o era noite ou fumac?a e de todos os dias, o carrasco detinha os trilhos da proficiência Na?o vi campos, nem sinais de gritos, ou angustia das vitimas

senti cada parada cada pequena que viveu nas cavernas preservadas nas colec?o?es intactas ou na predac?a?o cano?nica A selec?a?o naturalmente objetivada pela negac?a?o da naturalidade. Na?o me interessa que na?o vi, (nem quem na?o viu), Nem quem soprou seu silencio para o vapor da constância, de quem preferiu as ma?os que alimentam quem dizima. Só saberemos quando vivermos nos esconderijos desacreditados na sonolência de nossos dedos ou nas qualidades extintas como nós, extintos. Na?o importa (nunca importou) o cultivo, mas a produc?a?o, o aprec?o por resultados, o rastreamento de objetos que com vida ou sem melancólica seré, Aí temos o protocolo superado a experiência romântica sustentada na escala

Enquanto o mundo pensa em paz, Na calma capturada do carva?o dos ossos A travessia que importa Usa forc?a do solo como tingimento, E, como furos em flautas alternam sons com acendimento de vela perfiladas, nas presenças sem sequencia. na curva do mundo Na atenuac?a?o final de vidas em estudo Porque nossos olhos retém o na?o expresso E, como trens, invadimos o mundo com troncos negros Na matéria que se impo?e como referendo do espírito, Agulham nossos dias com palheiros e, à latitude da ilusão. Aterram o assombramento Tudo, tudo mesmo e para que essa perplexidade gere totens e olhos sem brac?os nos alcancem em noite de cristais, pogroms ou vidrac?as nos nomes que esfacelem a realidade, que, sem chances, observa a violência do descuido

Mas a noite, sim, anônima Impo?e a presença Recontada ao infinito Mesmo que cada gra?o do carbono esgotado Entupa de maturidade as nac?o?es Achamos que, do tabuleiro de onde estiver, deves absorver tuas regras. II Para infortúnio geral Somos um passado atento Seis milho?es nas curvas Assistidos com a brutalidade da demora O esquecimento do mundo A carga excessiva Que impressiona apenas os tolhidos da cena (Em Stuttgart testemunham-se monumentos nos quais as vitimas sa?o eles) Mesmo à distancia do meio do Atlântico Estancaremos perto do nada

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Só faz 70 anos Os campos estavam nos libertando da vida Enquanto a eugenia dos doutores do partido Subiam de incenso na mente do povo do sile?ncio Ah, estamos em comunhão Mas, para registros futuros jamais o barometro do céu agira aqui-agora como o esmagamento do ali-afora.  
STUTTGART-PARIS JUNHO.2007
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  DIÁRIO DE NOITE NA RUA NEW OLIPIK Responsa do Eterno (para Nachmann Ben Wolf ) só posso ouvir o dia nas noites noturnos sa?o gatilhos de engrenagens que nos varrem só posso saber de ti se houvesse um quintal qualquer, qualquer um, desocupado de gente, mas tudo, decisivamente tomado só posso trincar o gelo se houve leitura mas tudo esteve atado a biblioteca estalava de papéis despedaçados cadeiras varavam janelas. só posso medir o gueto pelo volume de fagulhas de onde olho, traças, nenhum grande inseto só posso me mexer na meticulosidade dos estremecimentos nas calcadas, entre tanques em branco sapatos e crianças espalham-se sem donos
s;o hoje vi a luz do dia. da varanda oca D-us acenava: só mais um minuto quando levantei ocorreu o seguinte: so? agora via tudo as fotos regiam os meus anos, celebrei mais esta noite só agora sei que vivi a tragédia uniforme e só a infância, é a eterna resposta do Eterno.
  https://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/dia-do-levante/

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