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Crônica, política e derivações

Dois poemas para o dia do levante do Gueto de Varsóvia

Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

    LEVANTE-SE, GUETO (para quem lutou em Varso?via) Aprendi, na?o sei com quem, na?o sei quando qualquer retiro, sera? bom desde que espies pela noite o que la? na?o esta?. Na?o sei quando, muito menos hoje: vi so?is desaparecidos. A esfinge cansada nada falava nem por isto fomos reconhecidos assinamos armisti?cios, os homens cegam a beleza com absurdos discretos, excentricidades fugazes, fama ou decreto Na?o sei se hoje, nem ate? quando! erodidos pelo excesso de sentido nos olhos exi?guos nos sonhos, que pressionam, ambi?guos

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Na?o sei se agora, nem ate? que ponto nos guetos tchecos, recebemos ricochetes, guetos e dialetos. Na?o sei mais, se havera? um dia Hero?is servem, E nada os espanta, de que adianta? Na?o sei se ja? ou nunca mais. Jargo?es precisos, sobem ativos em ritos concisos mili?cias sem ordem cessar fogo centrado, estilhac?o averbado Na?o sei se agora sera?, ou ja? fomos registro incerto, escrevo na noite, estampido seco de perto mapeamos o deca?logo cada silaba desceu em espiral, como alimento legi?vel de carne e ruinas em leito terminal

Na?o sabemos agora se o passado sonha com futuro, se ha? inso?nia se nosso levante amealhara? a insurreic?a?o ou seremos descobertos. u?ltimo dia, agora ha? certeza, tudo que sabi?amos desapareceu desconheceremos o amanha? para logo mais ser tardes para sempre. *****************************************************************
SEIS MILHO?ES I Os seis esta?o bem aqui. posso senti-los sob meus pe?s, regulares, como todas as descidas ri?tmicos como gelos. intensos como florestas No declive de ge?nero fantasiados de corporac?o?es nos trens improvisados, como ma?quinas de extrac?a?o enquanto metrificavam judeus a IBM e a Krupp acendiam os fornos da despensa Do trem, digo na?o era noite ou fumac?a e de todos os dias, o carrasco detinha os trilhos da proficie?ncia Na?o vi campos, nem sinais de gritos, ou angu?stia das vi?timas
senti cada parada cada pequena que viveu nas cavernas preservadas nas colec?o?es intactas ou na predac?a?o cano?nica A selec?a?o naturalmente objetivada pela negac?a?o da naturalidade. Na?o me interessa que na?o vi, (nem quem na?o viu), Nem quem soprou seu sile?ncio para o vapor da consta?ncia, de quem preferiu as ma?os que alimentam quem dizima. So? saberemos quando vivermos nos esconderijos desacreditados na sonole?ncia de nossos dedos ou nas qualidades extintas como no?s, extintos. Na?o importa (nunca importou) o cultivo, mas a produc?a?o, o aprec?o por resultados, o rastreamento de objetos que com vida ou sem melanco?lica sera?, Ai? temos o protocolo superado a experie?ncia roma?ntica sustentada na escala
Enquanto o mundo pensa em paz, Na calma capturada do carva?o dos ossos A travessia que importa Usa forc?a do solo como tingimento, E, como furos em flautas alternam sons com acendimento de vela perfiladas, nas presenc?as sem seque?ncia. na curva do mundo Na atenuac?a?o final de vidas em estudo Porque nossos olhos rete?m o na?o expresso E, como trens, invadimos o mundo com troncos negros Na mate?ria que se impo?e como referendo do espi?rito, Agulham nossos dias com palheiros e, a? latitude da ilusa?o. Aterram o assombramento Tudo, tudo mesmo e? para que essa perplexidade gere totens e olhos sem brac?os nos alcancem em noite de cristais, pogroms ou vidrac?as nos nomes que esfacelem a realidade, que, sem chances, observa a viole?ncia do descuido
Mas a noite, sim, ano?nima Impo?e a presenc?a Recontada ao infinito Mesmo que cada gra?o do carbono esgotado Entupa de maturidade as nac?o?es Achamos que, do tabuleiro de onde estiver, deves absorver tuas regras. II Para infortu?nio geral Somos um passado atento Seis milho?es nas curvas Assistidos com a brutalidade da demora O esquecimento do mundo A carga excessiva Que impressiona apenas os tolhidos da cena (Em Stuttgart testemunham-se monumentos nos quais as vi?timas sa?o eles) Mesmo a? distancia do meio do atla?ntico Estancaremos perto do nada
So? faz 70 anos Os campos estavam nos libertando da vida Enquanto a eugenia dos doutores do partido Subiam de incenso na mente do povo do sile?ncio Ah, estamos em comunha?o Mas, para registros futuros jamais o baro?metro do ce?u agira? aqui-agora como o esmagamento do ali-afora.
STUTTGART-PARIS JUNHO.2007 Publicado no livro "A Pele que nos Divide", Quixote-Do, 2018

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