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Crônica, política e derivações

Estado Volátil

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:
  Foto: Estadão

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Atitude de Obama na crise da Ucrânia é impopular nos EUA, diz pesquisa

Reparem, há uma estação própria para palavras. Elas vem, duram um tempo e se mandam. Em geral, pegam a última carona. Hoje dá até para medir a frequência com que aparecem. Não faz muito foi a palavra crack (da bolsa, da crise, do colapso, das drogas) mas também já tivemos impeachment, inflação e sustentabilidade (7.410.000 resultados).

Um destas palavras da hora é manifestação (563.000 resultados).  Agora outra ameaça colocar-se na dianteira: volatilidade. Tudo está cada vez mais volátil. (do latim volatile, fig. inconstante, instável, volúvel, que pode ser reduzido a gás ou vapor, Nascentes, A.) Palavras, governo, país, economia e pessoas.  

Quanto vale uma refinaria? Um imóvel na Vieira Souto? Chuva no lugar certo? O corpo humano? Um voto? E a palavra de honra?

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Esqueça a ideia de inflação, e, se puder, apague da memória a percepção de que há uma sensação de descontrole no ar. Num prazo recorde, o país que decola é o mesmo que debica.

Não serão os últimos dias de Pompéia, mas podemos estar captando o início da montanha russa. Não será nenhuma terceira guerra, mas secessões em cadeia, conflagrações civis e a desorganização social são formas de conflito não menos terríveis.

O mundo sempre foi essa esponja turbulenta - davam de ombros os mais vividos - mas até eles admitem que o clima acumulou nebulosidade.

Exemplos recentes de volatilidade das palavras, e como ela se tornou um dos problemas mais complexos do presente?

Quatro grandes nações prometeram à Ucrânia proteção caso se livrasse das ogivas. A linha vermelha pelo uso de armas químicas na Síria. A manipulação das informações no caso do último acidente aéreo. A semelhança dos discursos e o comportamento paradoxal e errático dos políticos.

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Que dizer? Que a natureza incontrolável dos fenômenos e sua comunicabilidade instantânea nos guiaram à inconsistência?

Pode-se mudar de opinião, instante a instante. Para a contemporaneidade, a coerência é uma máscara abjeta. Ninguém pode ser julgado. A decência pode ser um valor burguês superável. O crime e a violência adquirem álibis cada vez mais plausíveis. Ainda assim, a volatilidade não deixa de ser um produto perigoso. Mais cedo ou mais tarde virá a bula. Se o volátil representa flexibilidade, plasticidade, adaptação e dinamismo, ao mesmo tempo significa incerteza, imprevisibilidade, oscilação e temeridade.

Se há saída?

Precisamos aprender a evaporar com classe.  

 

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