Nasa divulga imagens de planeta rosa Quando a realidade parece inapreensível, recorramos ao impossível.
Tomemos este, que é um dos seus mais significativos e sub explorados verbetes do dicionário. Até o suposto defeito vira virtude na voz polissêmica dos glossários.
Deduzamos sozinhos examinando a rubrica "impossível": áporo, sonho de louco, pedra filosofal, vôo de um boi, o irrealizável, não haver possibilidade de espécie alguma, querer sol na eira e chuva no nabal, prende la lune avec les dents, incendiar o Amazonas, meter o Rocio na betesga, tirar leite de um bode na peneira, carregar água num jacá, abarcar o céu com as mãos, assar qualquer coisa no bico do dedo, extinguir-se no planeta o calor central, acabar no céu a rotação dos astros, querer ter o dom da ubiquidade, inacesso, inabordável.
O impossível só pode ser o que acabamos de realizar, o possível visto por alguém fora das nossas órbitas.
Quando a realidade parece inapreensível, recorramos ao impossível.
Tomemos este, que é um dos seus mais significativos e sub explorados verbetes do dicionário. Até o suposto defeito vira virtude na voz polissêmica dos glossários.
Deduzamos sozinhos examinando a rubrica "impossível": áporo, sonho de louco, pedra filosofal, vôo de um boi, o irrealizável, não haver possibilidade de espécie alguma, querer sol na eira e chuva no nabal, prende la lune avec les dents, incendiar o Amazonas, meter o Rocio na betesga, tirar leite de um bode na peneira, carregar água num jacá, abarcar o céu com as mãos, assar qualquer coisa no bico do dedo, extinguir-se no planeta o calor central, acabar no céu a rotação dos astros, querer ter o dom da ubiquidade, inacesso, inabordável.
O impossível só pode ser o que acabamos de realizar, o possível visto por alguém fora das nossas órbitas.
Em outras palavras, só o impossível é justo.
Impossível: eu escuto teu nome
Sob o pó que sobe
Escuto teu nome
Sob o desvio das línguas
Sob a conjugação dos mares
Sob bloqueio das ondas
Eu escuto teu nome
Sob a marcha dos acorrentados
Sob exércitos vencidos
Sob a exaustão das setas
Eu escuto teu nome
Sob o plátano fixo
Sob a cadeia de choros
Sob o destino sem eixo
Eu escuto teu nome
Sob órbitas de passagem
Sob a miragem do término
Sob incêndio dos rios
Eu escuto teu nome
Sob o sol oceânico
Sob a divisão artificial
Sob a palafita abissal
Eu escuto teu nome
Sob a fome da África
Sob o gelo degradado
Sob o coro dos escravos
Eu escuto teu nome
Sob o impulso da América
Sob a exaustão colonial
Sob a forca da justiça
Eu escuto teu nome
Sob as botas da Europa
Sob a lente dos carrascos
Sob os massacres sem autor
Eu escuto teu nome
Sob a surdez do poder
Sob a imensidão sem bordas
Sob fronteiras apagadas
Eu escuto teu nome
Sob a aflição do urânio
Sob pétalas encolhidas
Sob a radiação beta
Eu escuto teu nome
Sob o parque em fumaça
Sob o cascalho das selvas
Sob a cinza das feras
Eu escuto teu nome
Sob a morte iminente
Sob o carbono dos museus
Sob esconderijos
Eu escuto teu nome
Sob o solarium das estrelas
Sob a claraboia do cerrado
Sob a confluência de sonhos
Eu escuto teu nome
Sob a anulação do branco
Sob homens transparentes
Sob o risco de desaparecer
Eu escuto teu nome
Sob vozes cortadas
Sob caudilhos reunidos
Sob assobios dos humilhados
Eu escuto teu nome
Sob as florestas sem guias
Sob mantas de asfalto
Sob o estalo das rochas
Eu escuto teu nome
Sob a concavidade das formas
Sob convite dos sentidos
Sob o elástico dos lábios
Eu escuto teu nome
Sob toda rarefação
Sob multidões apagadas
Sob armas alinhadas
Eu escuto teu nome
Sob a casca da fachada
Sob a fornalha do desejo
Sob a superfície do ínfimo
Eu escuto teu nome
Sob as unhas do predador
Sob manchas da honra
Sob o ócio dos réus
Eu escuto teu nome
Sob cada passo retido
Sob o preso liberto
Sob o imigrante desdito
Eu escuto teu nome
Sob a ruptura iminente
Sob a revolução dos corpos
Sob a ruína do poente
Eu escuto teu nome
Sob esperança
Sob a areia do tempo
Sob a casca da duração
Eu escuto teu nome
Sob a sombra reduzida
Sob ombros de amantes
Sob o adorno dos errantes
Eu escuto teu nome
Sob o nulo que fala
Sob o murro que cala
Sob as danças do horror
Eu escuto teu nome
Sob a paz travada
Sob casas ameaçadas
Sob o fim anunciado
Eu escuto teu nome
Sob os túneis acesos
Sob a pupila fixa
Sob a vida suspensa
Eu escuto teu nome
Agora enxergo, além do nome
Ouço o sempre e o nunca
E sob a audição do impossível
Uno-me.