O ódio como política Alguém apresentou um interessante painel colorido referente à recente votação do STF sobre os Embargos Infringentes. Ele demonstrava graficamente a guerra de twiters entre os que eram a favor e contra a decisão da corte. O clima esquentou muito e se transformou numa batalha sem grande poesia. Logo as redes repercutiram: apareceram pessoas lamentando por que tanta celeuma? O que justifica a intensificação das hostilidades?
Denota bem o estado das coisas no País. A falência da crítica e a asfixia do diálogo. Atos impulsivos pairam sobre todos nós. Uma análise preliminar sobre os julgamentos instantâneos, é que a web não só permite, como convida, aguça e endossa o ímpeto para opinar. Uma hipótese a ser comprovada adiante é que a ação da escrita numa rede gigante, vale-tudo e interativa, excita o automatismo. Isso significa que a frente do teclado e diante de algum assunto no qual estamos levemente convictos, decidimos nos expressar na lata, explosivamente. Muitas vezes, vale dizer a maioria, abolindo uma análise autocrítica, deixando de esmiuçar a fonte de onde bebemos a informação. O resto vira detalhe: involuntariamente podemos estar caluniando, fazendo platéia para meias verdades ou só repassando más interpretações.
No caso de um post, e-mail ou in box recém emitido, quando o tal exame autocritico chega, vem tardio. Ai, só mesmo o pedido de desculpas, o remorso ou o "que se dane". Nesse caso é correr para mergulhar nas brigas. Isso significa que as opiniões colocadas no ciberspace, via de regra, obedecem uma vontade quase instintiva, semi-irreflexiva. Não chega a ser fluxo de consciência, mas quase. Não é fortuito que as pessoas tenham brigado e se agredido mais online. Que as discordâncias instantâneas - que em outro contexto (num bar, ao vivo, ou numa conversa intima poderiam ser intercorrências sem importância) - passem a gerar cadeias de mal estar. É que o registro está lá, gravado, disponível aos inspetores da vida alheia. Aos olheiros espiões. A ofensa postada não se move. O verbo voa, a escrita permanece, já ensinava o adagio. A assistência de uma plateia - que se sente obrigada a repercutir -- curtindo, rejeitado ou xingando, alonga a bolsa de torcida e ofensas.
A refutação impensada do contraditório simboliza a polarização. Alinhamentos automáticos são praticamente colocados na boca de quem rejeita ou apoia a decisão do STF. Nota-se alguma vantagem para quem transforma o palanque passional em demonização dos que denunciam as ações de governantes que apostam no desmantelamento das instituições e, portanto, na desmoralização do Estado. Resumindo, a trama toda acaba numa tremenda generalização. Sem um pingo de paranoia, e reconhecendo que parte deste estranhamento faz parte do amadurecimento democrático, não se pode mais fechar os olhos aos que ganham com a radicalização das divisões sociais e lucram politicamente com a indução do antagonismo político. E a conspiração notável, acusar os outros de conspiradores obedece a sutileza de quem aprendeu a levar todo mundo no bico.
Alguém apresentou um interessante painel colorido referente à recente votação do STF sobre os Embargos Infringentes. Ele demonstrava graficamente a guerra de twiters entre os que eram a favor e contra a decisão da corte. O clima esquentou muito e se transformou numa batalha sem grande poesia. Logo as redes repercutiram: apareceram pessoas lamentando por que tanta celeuma? O que justifica a intensificação das hostilidades?
Denota bem o estado das coisas no País. A falência da crítica e a asfixia do diálogo. Atos impulsivos pairam sobre todos nós. Uma análise preliminar sobre os julgamentos instantâneos, é que a web não só permite, como convida, aguça e endossa o ímpeto para opinar. Uma hipótese a ser comprovada adiante é que a ação da escrita numa rede gigante, vale-tudo e interativa, excita o automatismo. Isso significa que a frente do teclado e diante de algum assunto no qual estamos levemente convictos, decidimos nos expressar na lata, explosivamente. Muitas vezes, vale dizer a maioria, abolindo uma análise autocrítica, deixando de esmiuçar a fonte de onde bebemos a informação. O resto vira detalhe: involuntariamente podemos estar caluniando, fazendo platéia para meias verdades ou só repassando más interpretações.
No caso de um post, e-mail ou in box recém emitido, quando o tal exame autocritico chega, vem tardio. Ai, só mesmo o pedido de desculpas, o remorso ou o "que se dane". Nesse caso é correr para mergulhar nas brigas. Isso significa que as opiniões colocadas no ciberspace, via de regra, obedecem uma vontade quase instintiva, semi-irreflexiva. Não chega a ser fluxo de consciência, mas quase. Não é fortuito que as pessoas tenham brigado e se agredido mais online. Que as discordâncias instantâneas - que em outro contexto (num bar, ao vivo, ou numa conversa intima poderiam ser intercorrências sem importância) - passem a gerar cadeias de mal estar. É que o registro está lá, gravado, disponível aos inspetores da vida alheia. Aos olheiros espiões. A ofensa postada não se move. O verbo voa, a escrita permanece, já ensinava o adagio. A assistência de uma plateia - que se sente obrigada a repercutir -- curtindo, rejeitado ou xingando, alonga a bolsa de torcida e ofensas.
A refutação impensada do contraditório simboliza a polarização. Alinhamentos automáticos são praticamente colocados na boca de quem rejeita ou apoia a decisão do STF. Nota-se alguma vantagem para quem transforma o palanque passional em demonização dos que denunciam as ações de governantes que apostam no desmantelamento das instituições e, portanto, na desmoralização do Estado. Resumindo, a trama toda acaba numa tremenda generalização. Sem um pingo de paranoia, e reconhecendo que parte deste estranhamento faz parte do amadurecimento democrático, não se pode mais fechar os olhos aos que ganham com a radicalização das divisões sociais e lucram politicamente com a indução do antagonismo político. E a conspiração notável, acusar os outros de conspiradores obedece a sutileza de quem aprendeu a levar todo mundo no bico.
Vale também relembrar que é da natureza do poder e seus representantes conseguir espantosas reconciliações em prazos exíguos. Vimos recentemente inimigos históricos trocarem carinhos e apertos na bochecha. Comprovadamente, nós, que temos vísceras e estranhamos a frieza negocial, não desenvolvemos tais habilidades.
Nada justifica sacrificar relações às custas de efemérides que, colocadas em perspectiva, não são nada comparadas com a preservação das amizades. Mas pode-se também admitir que amigos que aceitam colocar em risco uma relação por um punhado de gente duvidosa, podem não mais corresponder às nossas expectativas.