Paulo Rosenbaum
07 de dezembro de 2013 | 23h33
Continuamos sonhando, o combate contra a esperança, luta perdida. Sempre damos um jeito de vislumbrar saídas. O beco está escuro? Iluminar-se-á. As coisas não andam? Movemo-las. O sistema é um obstáculo? Ele passará, nós permaneceremos. Reconstruiremos tudo, pedaço a pedaço. Ruínas e terra devastada nunca foram impedimento. Ainda que possamos nos render à paralisia provisória nossas tintas ainda ardem, afrescos que não envelhecem. Novos em folha, temos a intuição, refaremos o essencial. Os organismos se reconstroem, a cada potencial elétrico usado, nossas vidas giram conforme o rotor do DNA: 180.000 ciclos por segundo. Somos hélices, e irrompemos sem lâminas. Não há mais medo da mutilação, da dor, da sofreguidão, e toda separação é só recomeço. Vislumbramos os destinos e conservamos o instinto. Destinados a mais de um caminho, vimos sábios perdidos, areias descalças, e vida inoportuna. Ao mesmo tempo, a corda arrefecida, o sorriso imprudente, e a sede mitigada. E se todo restauro é mesmo provisória, o caminho até a união é a única realidade. A duração, só cansaço da matéria, o pendulo das sombras sempre volta à luz.
Por isso estamos vivos. Vivos para dizer que sim. É inexequível, o único possível.
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