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Crônica, política e derivações

Liberdade, idiossincrasia e as redes sociais

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:
 Foto: Estadão

A palavra Liberdade é um daqueles mottos perpétuos, que ocorre bem antes do advento da Democracia grega e do seu apogeu no século de Péricles. Uma das expressões mais representativas para os povos em toda trajetória da historia humana. Agora, ressignifiquem a palavra para imaginar “Liberdade” como um organismo vivo. Como distinguir a Liberdade como princípio, daqueles que a tomam e confundem a opinião pública com slogans que apenas soam libertários? Slogans, que usando o argumento da Liberdade, negam às vítimas o direito à justiça e, portanto, à própria Liberdade. Alguém já ouviu conselhos não solicitados como por exemplo “para sofrer menos negue a si mesmo”? Ou talvez “adapte-se e encontre outra forma de ser”?

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Pois a Liberdade jamais diria isso.

A auto imagem da Liberdade está, por exemplo, no incômodo que ela sente com a invisibilidade dos outros. Está na resistência em aceitar passivamente a doutrinação dos arautos da reforma intima alheia. Encontra-se fixa na percepção de que a teleologia (ou a finalidade última) não está nas mãos de um destino preestabelecido, seja ideológico, religioso ou existencial. Ou seja, não se encontra ordenado por ninguém. Ela é uma escolha individual, única, um inalienável direito que os sistemas políticos contemporâneos foram apagando.

Sua força está no desprezo pelos arregimentadores do pensamento. Pelos formadores de opinião, os quais infestados por preconceitos e atavismos, sustentados pelos mais variados justificacionismos, carregam suas verdades anacrônicas com a carismática convicção da onisciência.

A oxigenação da Liberdade está condicionada a impedir que aqueles que desejam suprimi-la possam decidir em teu nome. Outra coisa que a Liberdade não faria: jamais te tornaria refém. Entendes que não faz parte de índole? Igualmente ela não poderia te alcançar com sombras, ameaças ou promessas de ocasião. Ela de fato é o espírito que se interpõe contra o tirano, assim como bloqueia as permanentes tentativas de mordaça e os sequenciais tentamens de censura. E, instintivamente, ela é capaz de absorver toda cadeia predatória para sustentar-te emancipado, completo, e, principalmente, autonômico. Destarte, como acontece com o sétimo sentido, o do equilíbrio, ninguém a valoriza, a menos que desapareça.

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Minha intuição é de que a tecnologia que agora dispomos pode funcionar como plataforma eleitoral de sua mensagem. Por isso mesmo as redes sociais e o network correlato estão sendo cada vez mais vigiados e monitorados. E mais, sistemas de poder do mundo já a elegem como o mais importante marcador político de nossos tempos. Eis que os odiadores da liberdade como ditadores, populistas, fanáticos e ufanistas não conseguem usufrui-la a menos que possam comanda-la. Não só porque a combatem, mas porque jamais chegaram a compreende-la. Pode não parecer, mas os acontecimentos atuais do mundo tem direta relação com nossa entidade.

Os povos querem, vale dizer exigem, ter direito às suas idiossincrasias. Preferem viver sem assimilar-se ao que quer que seja. Na verdade, essa exigência torna-se artigo pétreo, um ponto de honra para a Liberdade, num mundo que a valoriza cada vez menos. Os povos não querem que seus costumes, escolhas religiosas ou orientações vitais sejam regulados por burocratas, sejam eles de Brasília, Moscou ou Bruxelas. Os Macabeus, que fundaram a dinastia dos Hasmoneus (164- 34 A.C) perceberam isso quando se rebelaram contra a imposição dos Seleucidas que queriam proibir os costumes e práticas religiosas judaicas. Mas não era somente um ponto moral, era a manifestação do desejo de não ser tutelado. Uma recusa é de difícil compreensão para quem governa se não analisada à luz das idiossincrasias.

A aversão às imposições, a natural rejeição às normatizações que não fazem sentido ou agridem as tradições culturas, aguçam a resistência. Às vezes, a ponto da animosidade criar escolhas que nada tem a ver com razão ou racionalidade. A pressão com que o poder impõe as suas verdades fomenta a antipatia natural, que alguns filósofos instantâneos estigmatizaram como ódio, atraso ou ressentimento.

E, num espetacular equivoco, os artesãos da universalidade sintética costumam demonizar as redes sociais, quando, na verdade, deveria ser evidente que elas não são a causa, apenas expressam as consequências dos recorrentes desastres dos mandatários.

Entretanto a aversão verdadeira deve-se à outra força. Pulsão que parte dos intelectuais engajados considera fantasmagórica: a luta permanente contra a homogeneização. De fato, é essa a batalha contemporânea que resume todas as demais. A incontornável realidade é que o discurso que embasou a admirável luta por direitos humanos e justiça social, paradoxalmente, voltou-se contra a Liberdade.

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Para derrotar a Liberdade surgem mecanismos, os quais infestando todos os campos políticos prometem controle, extinção do heterogêneo, uniformização, extinção das desigualdades junto com os sujeitos individuais. Ou, Liberdade vigiada de acordo com os padrões da comunidade. Ninguém duvida que possam seduzir ao se tingirem com um fosco verniz democrático. Pois enquanto a Liberdade só tem ela mesmo para oferecer, os demais poderes, dos mecanicistas aos delirantes, tentam regulamentar a vida, extirpando a vida, isto é a Liberdade.

De fato, ninguém negará que as redes sociais popularizaram o superficial e espalharam as narrativas obsedantes, mas uma virtude pode ter compensado todas essas impropriedades: romper com o oligopólio daqueles que sempre, no atacado, se auto elegeram como arregimentadores do pensamento, formadores de opinião e ventriloquos da opinião pública. Tê-los destituído do trono da hegemonia, isso é que não tem preço

Feliz Chanuka e Feliz Natal.

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