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Crônica, política e derivações

No último poema de 5781

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:
 Foto: Estadão

Eis que no ultimo poema do ano

leremos os sinais, aqueles que ocultamos,

nos objetos ritualísticos,

na matéria que parece irrelevante

Durante o último poema do ano

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Em visões sucessivas, projetaremos, em céus particulares

nas telas internas, e nos menores símbolos

os rostos daqueles que sumiram,

que nos escaparam por um fio

ceifados sem que soubéssemos,

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ou déssemos conta de suas partidas sem aviso

aqueles que estavam em distâncias intransponíveis,

Neste último poema do presente ano

é mister aspirar pelo regresso dos que amamos,

mas, também, dos que deveríamos ter aprendido a tolerar

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Enquanto lemos o último poema do ano

os corações, que normalmente balançam sob tumultos

Fazem revisões, desfilam à exposição das vulnerabilidades

recolhem-se, estoicos, à passagem das turbulências

sem ceder ao caos das aparências

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No último poema do ano

Estaremos todos juntos, aqui, ali, ou em Jerusalém

Aqui, ou nos desafios que não poderemos mais numerar

Como os decretos, incognoscíveis,

Que não sendo apenas humanos,

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Vem do Alto, e com eles, esticamos a peneira da colheita

Durante o último poema do ano

Ficaremos próximos, pela paz

Mas também sentinelas, atentos às lutas

Solidários como quem soube

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Que estamos sempre perto do risco

E das transformações perigosas

Enquanto passamos através deste último poema do ano

Podemos enxergar o grande tecido, a coisa extensa

Aquela que contém a totalidade das pessoas

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E que  nos ajeita no mesmo tapete

que oscila, sob a inconstância do vento

E no capricho errático do tempo

Neste último poema do ano

Não há só o shofar, nem só o som do chifre do carneiro

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Mas, fragmentos musicais

que, de ouvido, decompomos para formar hinos

O hino que disputa a vida

Contra as forças do atraso e da violência

Que estão por todos os lados

e fizeram sumir o meridiano dos centros

Ainda no último poema do ano

A liberdade mostra-se arredia

E merece um penúltimo esforço

Uma miríade de canais abertos que irrigam

com sementes as tempestades sem controle

E no ultimo poema do ano

O aniversario da humanidade fará emergir

o sopro de vida que neutraliza pulsões e tiranias.

Dentro do último poema do ano

encontram-se liberdades em expansão,

dúvidas sobre o extensão do livre arbítrio,

bem-aventuranças em estado de hibernação,

e, se desconhecemos o porvir do multiverso

temos uma e a mesma certeza

a correnteza é o solo que temos em comum

e, que neste último poema do ano

Às vésperas de 5782,

os igarapés formem uma confluência imprevisível

no irretorquível livro da vida, a árvore que nunca termina,

Quando as lembranças dos nossos queridos

formarão uma galeria dos afetos

em permanente e ininterrupta exposição.

Shaná Tová!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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