Paulo Rosenbaum
05 de outubro de 2013 | 21h49
Três e quarenta da madrugada. Dois sujeitos trôpegos estão para se trombar no meio da calçada. O asfalto tinha marcas de sangue, cacos de vidro, e a fumaça cinérea de incêndios recém apagados. Klauss, sentado na calçada com a sobrancelha estourada, esfregava um lenço para estancar o corte vivo enquanto tentava com o dedo, limpar com saliva o risco fundo que tinha na bochecha. Mário estava com paletó rasgado e a gravata pendurada, apoiando a cabeça contra a parede do prédio da filosofia.
— Voce é de lá ou de cá, puxa assunto Klauss sem levantar a cabeça
— Cá e lá? Estranhou Mário que se desloca na direção do interlocutor
–Daquele lado? Aponta a edificação de tijolos escuros.
Mário balança a cabeça em negativa. Klauss levanta preocupado. Retrocede uns passos enquanto Mário parte em sua direção
— Moro na filosofia. E retoca com um gesto vago.
— Comuna!
— Reaça!
–Libertino!
— Burguês!
–Mac!
–Filo!
–Carne!
–Leite!
–Clássico!
— Rock!
— Capital!
–Marx!
–Esquerda!
— Direita!
Os homens se adiantam e estão frente a frente, posição de duelo.
— Isso é ridículo!
— Ridículo!
–Estou de saco cheio de tudo isso!
— Não faz sentido!
— O menor sentido!
Os dois jogaram os porretes. Um se foi em direção à Consolação, o outro, chutou a placa que estava na sarjeta.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.