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Crônica, política e derivações

O último whats

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Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

O último whats

Paulo Rosenbaum

17 dezembro 2015 | 19:13

-Leia isso aqui!

-"Help?"

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-Isso, "help!".

-Chegou quando?

-Meia noite!

-Estranho!

-Quem enviou?

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-Não tem remetente, nem destinatário.

-Exato, mensagem na garrafa e parece que milhões de pessoas receberam.

- E a outra, que chegou um segundo antes!

-"Embargo geral?"

-Essa!

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-Por que escreveriam isso?

-Ah, você não imagina?

-Não faço a mínima.

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-Eu te listo mil motivos em um minuto.

-Então conta

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- Perdemos critério, esvaziamos o bom senso, estamos governados pelo senso comum, a elite sustenta o poder, estamos sob censura, o crime varou a carne, o sistema tolheu as escolhas individuais. A divisão virou guerra. Os dossiês, armas. As discussões, torcidas organizadas. A judicialização, indevida. Carência de justiça devida. Segredos de Estado. Estado democrático sob cerco. Estado com espectro policial. Qualquer um não pediria ajuda?

-Imploraria.

-Foi até discreto, mas assim? Ao cosmos? Para alguém alhures? Ele é um daqueles que ainda acredita no Céu?.

-E você, não?

(silencio intimidador)

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- Não?

- Evoco a quinta emenda.

- Isso não vale nada por aqui. Lembra? Aliás, essa Constituinte aqui não sei não.

-Então te digo que no que não acredito: nessa política, na esquerda retrógrada, na direita obtusa, no centro acéfalo.

-Vejo que você não enxerga mesmo. Não percebeu os símbolos na linguagem? Impedimento, bloqueio, intervenção, sigilo de justiça, controle da mídia, restrição, liminares, prisão domiciliar oficial, arbítrio, mordaça. Ninguém precisa decretar "somos um governo tirânico", é auto evidente. Se não acredita, faça seu próprio levantamento. Te digo que é por ai.

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-Certo, mas o mistério persiste: quem digitou "help"?

-E quem não o faria? É help mesmo! Socorro, acudam, alguém faça qualquer coisa.

-Você está insinuando o que? Uma inteligência artificial? Capaz de perceber a bagunça e ainda gritar "socorro"?

-E por que não? Fenômeno raro, já registrado antes. Assim como existe uma inteligência individual de cada órgão do corpo, existe uma espécie de organização autonômica desconhecida, que age à nossa revelia. Só se manifesta em momentos críticos para a humanidade e poucas vezes abaixo do Equador. Transmissões radiofônicas sem origem, impulsos eletromagnéticos que são próximos e ao mesmo tempo não localizáveis, é como se a radiação cósmica de fundo tivesse uma voz, que as vezes até digita.

-Você tá de brincadeira!

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-Nunca brinco com coisa séria!

(Voz celeste embargada: - Céus)

-Você ouviu, ou vai bancar o surdo.?

-Ouvi, mas não conta, tinha acabado de pingar 3 gotas de Rivotril

(voz celeste grave : - I rest my case) (tradutor automático: Para mim, deu)

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- Essa eu ouvi.

(ruídos de tremor de dentes)

- To te falando!

(voz celeste : - Fui)

- Olha aqui, o whats voltou.

- Milagre!

- Mas embargaram só no Brasil?

- Parece que sim.

- Arábia Saudita?

- Não. Isso é coisa muito nossa. Em qual outro lugar fariam isso?

- O que não entendo é por que uma Inteligência desse porte pediria nossa ajuda?

- Filho.  Era só uma expressão: torrou, excedeu todos os limites, de saco cheio. Entendeu? Nem Ele aguentou!

-- Você (se aproxima e sussurra) acha que Ele (aponta ao alto) pode ser anarquista?

(silencio constrangedor)

-No máximo, um não alinhado!

-Mas não era brasileiro?

-Se naturalizou argentino, ontem.

-Então é mesmo o fim.

-O País acabou.

(chega uma mensagem de texto paga com música dos Beatles de fundo)

- O País nem começou.

PS- Podem me acordar se surgirem novidades.

PS2- Por via das dúvidas, o novo passaporte é provisório http://brasil.estadao.com.br/blogs/conto-de-noticia/o-ultimo-whats/ Tags: blog conto de noticia, Estado democrático, Estado policial, help, inteligência artificial, juízes e o juizo, mensagem na garrafa, milagre, o país acabou?, o último whats, socorro

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